O violento, o ignorante e o subtil Tom Hardy em "Taboo"

Novo drama de época é uma das séries mais antecipadas do ano e chega a Portugal amanhã, no AMC. Com chancela da BBC e com Ridley Scott envolvido, conta com Tom Hardy como criador, argumentista, protagonista e produtor. Ao DN, o realizador Kristoffer Nyholm faz um balanço do projeto.
Publicado a
Atualizado a

Depois de ter sido dado como morto e de ter passado os últimos 12 anos em África, um misterioso homem regressa a Londres, com um conjunto de diamantes roubados, pronto para vingar a morte do seu pai. Decorre o ano de 1814.

A sua chegada a Inglaterra, que choca familiares e locais - tanto aliados como inimigos -, vai afetar profundamente as relações políticas entre o Reino Unido e os EUA, numa altura em que a guerra entre ambos está prestes a chegar ao fim. Porquê? No testemunho deixado pelo seu pai, este homem herda o mais importante e desejado território por ambos os países.

É esta a premissa de Taboo, o drama de época que tem sido anunciado como uma das estreias televisivas mais antecipadas do ano, e que arranca no canal AMC Portugal este domingo, às 22.10, com o primeiro de oito episódios.

Uma série com a chancela da BBC, que tem em Tom Hardy o principal pilar, com o ator britânico a acumular o papel de protagonista (James Delaney), coprodutor-executivo (ao lado de Ridley Scott, entre outros), criador e argumentista (cargo que divide com o seu pai, Edward Hardy, e Steven Knight).

Kristoffer Nyholm, que realiza os primeiros quatro episódios da série, explica em entrevista exclusiva ao DN porque nem pestanejou na hora de aceitar este desafio. "Ao ler o argumento dos primeiros dois episódios, o qual adorei, percebi como era diferente de outros dramas de época britânicos, que nunca me interessaram muito. Não é, decerto, o meu género [de ficção], mas senti que o argumento era um claro indicador de que iríamos contar uma história de forma diferente. E claro, pesou também a personagem principal, a qual achei extremamente interessante", conta o dinamarquês que também realizou o original escandinavo em que se baseou a série The Killing.

Nyholm elogia o desempenho e a entrega de Tom Hardy neste projeto, o que tem resultado numa "fantástica colaboração". "O Tom é muito aberto e quando trabalhamos juntos discutimos algo se não gostamos de um pormenor. Desde logo definimos que iríamos ser honestos se não gostássemos de uma determinada cena ou se sentíssemos que esta não continha autenticidade", explica o realizador.

"E criámos o espaço necessário para isso. Muitas vezes, gravávamos uma cena de apenas cinco frases ao longo de dois ou três minutos. Algo acabaria por acontecer ou o Tom acrescentava algo novo. Não se trata de dizer apenas palavras, mas sim de se criar um ambiente, uma atmosfera. Conseguimos usar essa margem de espaço a nosso favor e isso nota-se no resultado final", conta Nyholm.

Com uma série que mistura política, estatuto social e económico, prostituição, traição, família, feitiçaria, amor, ódio e vingança, o realizador deixa a modéstia de lado quando concorda que esta foi uma das estreias mais antecipadas do ano no pequeno ecrã.

"Sinto que existe um grande interesse e que as pessoas se afeiçoaram [nos EUA e Reino Unido, onde já se estreou]. Tenho recebido reações muito positivas e isso deixa-me feliz. A história surpreendeu o público. Há muitas perguntas e nem tantas respostas na série e percebe-se que o público tenta antecipar o que vai acontecer. Além disso, sinto que discutem realmente a essência da personagem principal. Existe um grande mistério à sua volta. O público adora isso", frisa ao DN o dinamarquês.

Procurar a luz na escuridão

Taboo conta com uma banda sonora do alemão Max Richter e a participação de outros atores como Jonathan Pryce e Ona Chaplin (ambos saídos de A Guerra dos Tronos), Michael Kelly (House of Cards), Mark Gatiss (Sherlock) ou Jefferson Hall (Vikings). Tem também, em comum com The Killing, uma estética obscura, algo que Kristoffer Nyholm diz não ser propositado.

"Uma vez disseram-me: "És daquelas pessoas a quem se dá um trabalho pelo qual não estás muito interessado e acabar por perceber que és bom a fazê-lo". Acho que existe aqui alguma verdade. Não procuro fazer dramas obscuros para TV, mas sinto-me interessado enquanto os faço. Não pela exploração dessa obscuridade, mas porque esta me dá a possibilidade de descobrir aquela pequena luz ao fundo. Isso torna a coisa mais interessante. Se fosse tudo sinistro, acabaria por ser um aborrecimento", frisa o realizador.

Atualmente a gravar um novo filme na Escócia, Keepers, um thriller protagonizado por Gerard Butler, Joe Alwyn e Peter Mullan, Nyholm revela que o maior desafio ao realizar Taboo não foram escolhas de cenário ou chegar ao ambiente certo para gravar, mas sim dosear, de forma lógica, "o lado subtil e sensível com o traumático e bruto desta história".

"Existem sempre estes saltos nas séries dramáticas, entre o amor, a morte, a violência, a sensibilidade. Mas aqui achei os saltos ainda mais extremos. Ligar todos estes lados foi a tarefa que, na minha mente, achei que tínhamos mesmo que alcançar. Conseguir que este protagonista, que por vezes é violento, bruto e ignorante, seja amado pelos espectadores, e que estes queiram continuar a acompanhar a sua jornada", remata o realizador ao DN.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt