O vendedor de gelados que traz um sorriso a várias gerações no Soweto

Sipho Mtshali começou a vender gelados com a sua carrinha no bairro dos arredores de Joanesburgo ainda no tempo do apartheid. Quarenta e cinco anos depois garante: "Enquanto estiver vivo, vou continuar".
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A música que sai da carrinha de gelados de Sipho Mtshali atrai hordas de crianças do Soweto desde os tempos violentos do apartheid na África do Sul, amontoando-se à sua volta para dar umas lambidelas nuns gelados cremosos e macios.

Décadas mais tarde, Mtshali continua em grande forma. Agora com 63 anos, o vendedor garante que trabalhou "de segunda-feira a segunda-feira" nos últimos 45 anos, conduzindo pelas colinas do bairro que deu Nelson Mandela ao mundo, o primeiro presidente negro da África do Sul.

Mesmo durante a violenta luta pela libertação do regime segregacionista da minoria branca que abalou o Soweto nos anos 1970, Mtshali manteve-se sempre ativo. Só o inverno o conseguiu fazer parar algumas vezes. "Se estiver frio, temos de descansar", garante este homem nascido no Soweto, o bairro onde estudantes sul-africanos se ergueram contra o regime do apartheid em 1976.

Mas a política nunca foi coisa que interessasse a Mtshali. "Tenho visto as pessoas crescerem a partir da minha carrinha dos gelados", afirma, fazendo notar que os preços eram mais baixos durante o apartheid, que só terminou oficialmente em 1994.

Hoje cobra oito randes (45 cêntimos de euro) por um gelado de morango e baunilha.

Junte-se mais uns randes e consegue-se um topping com granulados coloridos ou outro qualquer crocante.

Mtshali recorda-se com carinho dos rostos infantis arredondados dos seus primeiros clientes, hoje adultos que mandam os próprios filhos, com umas moedas na mão, ir comprar gelado à sua carrinha.

"Eles eram jovens quando começámos", diz, enquanto serve gelados a alguns clientes diretamente através dos vidros dos seus carros.

Sob um brilhante sol de verão [no hemisfério sul o verão começou agora], Mtshali conduz lentamente passando por algumas casas de tijolo, pequenas e todas elas idênticas, construídas para os trabalhadores negros nos arredores de Joanesburgo durante o regime do apartheid. Mas tem de desligar o motor para ligar a sua máquina de fazer gelados italiana. "Não consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo", murmura, enquanto as lâminas se agitam atrás dele.

Mas esta pequena falha mecânica não entalha a sua paixão pelos sorrisos que vai criando. "Enquanto estiver vivo, vou continuar a fazer isto", garante. "Todos são felizes com um gelado".

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