O treino de astronauta que ajuda Hamilton a combater o jet-lag
Da Austrália ao Brasil, do Japão ao Canadá, da Rússia ao México. O Mundial de Fórmula 1, que se divide por 21 etapas, obriga os pilotos a viajarem dezenas de milhar de quilómetros para se deslocarem de país para país, onde contactam com diferentes climas, gastronomias e com os efeitos negativos do jet-lag. Por isso, é essencial preparar os pilotos para estas condições. E no caso de Lewis Hamilton, atual campeão do Mundo, isso implica uma preparação... à astronauta.
Aki Hintsa, médico, e Steven Lockley, professor, não são figuras conhecidas na Fórmula 1, mas sem eles Hamilton não teria tanta facilidade em adaptar-se aos diferentes países. A especialização de Hintsa em medicina desportiva e os conhecimentos de Lockley em neurociência estiveram na base da criação de um programa utilizado na NASA, para os astronautas, mas que foi adaptado pelo piloto.
A ideia passa por fazer com que os efeitos do jet-lag não sejam tão notados. Numa profissão exigente como a Fórmula 1, na qual o menor deslize ou desatenção pode provocar desastres em pista (não só acidentes, mas também a diferença entre vencer ou não), tudo tem que ser pensado ao detalhe.
"Há coisas que podem ser manipuladas na transição entre fusos horários diferentes, como a exposição solar e a escuridão. Os pilotos usam uma versão sintética de uma hormona natural: a melatonina. É importante tomar uma dose de melatonina para ajudar a que o corpo se adapte ao novo horário", explicou o médico.
Hintsa desvendou, inclusive, uma das grandes curiosidades do circuito de F1: por que é que Hamilton usa tantas vezes óculos de sol, mesmo após os treinos livres ou antes de ir a conferências? "Damos aos nossos pilotos horários para evitar a luz e a escuridão, ou pelo menos minimizar a exposição, utilizando óculos de sol", justificou, citado pelo jornal AS.
A experiência de Steven Lockey na preparação de astronautas para missão espaciais também ajudou Hamilton a adaptar-se sem grandes dificuldades a diferentes rotinas. O piloto inglês garante que funciona. "O jet-lag não é um problema, pois provavelmente o meu corpo não sabe onde está. É tudo uma questão de nos adaptarmos aos horários e manter o corpo em forma. Habituei-me a fazer a sesta em todos os voos, mas há algumas vertentes em que os especialistas me preparam especificamente", contou Hamilton, admitindo que há "segredos" que não pode revelar.
O novo destino de Hamilton é o México, cujo GP se disputa no domingo. A três corridas do final da competição, o piloto inglês, detentor de três títulos mundiais, está a 26 pontos do colega e rival da Mercedes, Nico Rosberg, que venceu o GP do México em 2015, após um intervalo de duas décadas sem que o país fizesse parte do circuito internacional. Lewis falhou o triunfo no México por 0,188 segundos no último ano, mas sabe que agora já não tem mais margem para errar na procura do 3.º título consecutivo.