A E.ON, a maior empresa alemã de produção de electricidade e distribuição de gás, e a segunda maior da Europa logo a seguir à francesa EDF, surgiu ontem com uma oferta para comprar a espanhola Endesa, que já estava a ser alvo de uma oferta de aquisição da sua concorrente nacional Gas Natural. Um "cavaleiro branco" que o Governo de José Luis Zapatero não desejava..A oferta de compra da Endesa pela Gas Natural foi bastante acarinhada pelo Governo espanhol. Esta oferta concorrente alemã promete ser combatida. Apesar de dar aos accionistas mais 29% por acção. E apesar de, se tiver sucesso, criar a maior empresa do mundo no sector da energia, com sede na Europa..O projecto europeu e em particular a Espanha e a França enfrentam com esta oferta da E.ON um importantíssimo teste às convicções sobre o mercado único. Ficaremos a saber se o discurso coincide com a prática. Ou se apenas se pratica a união do mercado com alguns países, ou mais pequenos, como Portugal, ou mais habituados às leis do mercado, como é o caso do Reino Unido..Os franceses terão de mostrar, indirectamente, que não reagem mal ao ver a segunda maior empresa da Europa ultrapassar a sua EDF. E os espanhóis vão ser obrigados a expor a sua efectiva posição. Têm aqui a oportunidade de limpar de vez as suspeitas de proteccionismo a que estão frequentemente sujeitos..As empresas espanholas têm prosseguido nos últimos anos a agressivas - no bom sentido - operações de compra fora das suas fronteiras nacionais. No Reino Unido, o Santander comprou o sexto maior banco, o Abbey, e tentou aquisições em Itália. Em Portugal, vive--se, em altos e baixos, com o fantasma das aquisições vindas de Espanha. Nas duas grandes empresas portuguesas, PT e EDP, há empresas espanholas como accionistas. A Telefónica é vista como uma potencial interessada nesta oferta que decorre sobre a PT. Nada de negativo se o jogo de compras e vendas tiver dois sentidos..Mas as primeiras mensagens do Governo espanhol deixam antever um discurso nacionalista. Já se usam expressões como "matriz nacional" e "carácter estratégico do sector"..A oferta alemã é muito mais que uma operação que coloca a Europa no mapa mundial da energia. É uma oportunidade para mostrar que o mercado único é muito mais que retórica. Ficaremos a saber se Portugal tem sido um bom aluno ou apenas ingénuo.