O tempo para apostar nas pessoas e transformar o país
A semana de Páscoa, aparentemente trouxe a "normalidade" que se havia perdido em março de 2020 com a pandemia. Segundo os dados dos operadores, a ocupação de hotéis e a compra de outros produtos turísticos esteve a níveis de 2019. Quererão estes números dizer, que as pessoas, fartas de viver com as restrições da pandemia, começam a perder o receio de sair, de usarem restaurantes, hotéis e outros espaços de maior aglomeração. Acreditando que os números são os de 2019, podemos mesmo dizer que se está a ignorar as restrições que as autoridades insistem em manter. A sensação de segurança que as várias doses da vacina vieram trazer, com a enorme redução dos sintomas da doença em caso de contaminação, o estado de endemia em que supostamente estaremos e a convicção de que iremos viver com a doença como vivemos com tantas outras, estará a contribuir para esta abertura e para os números de turistas neste período de férias pascais.
Por outro lado, o receio de que os efeitos da guerra nos voltem a colocar em casa, desta vez por falta de recursos financeiros para viajar, ou de condições de segurança, poderá também ter contribuído para o aproveitamento deste "intervalo" entre a pandemia e a guerra. A forma como a economia está a portar-se, deixa antever que, para a maioria das pessoas, os efeitos da guerra poderão ser suficientemente penalizadores para não poderem viajar a não ser que os efeitos da inflação venham a ser corrigidos.
CitaçãocitacaoÉ obrigatório que o governo seja capaz de usar o seu suporte parlamentar para redirecionar a utilização do dinheiro público no apoio às famílias, às empresas e às suas próprias instituições.esquerda
As famílias sentem já o aumento dos custos diretos da energia, dos combustíveis, dos bens alimentares (alguns de primeira necessidade) e também dos custos indiretos nos restantes produtos, pois as empresas estão a fazer refletir os custos diretos nos bens que produzem e comercializam. Talvez por isso as férias da Páscoa tenham sido aproveitadas por todos os que puderam.
Esperamos que rapidamente seja possível parar com a guerra, de forma a atenuar e a reverter os seus efeitos, garantindo a "normalidade" que tanto desejamos e esperamos também que o governo e a Comissão Europeia tenham ferramentas suficientes para responder aos efeitos já conhecidos e aos que ainda não se conhecem, mas que serão inevitáveis. É obrigatório que o governo seja capaz de usar o seu suporte parlamentar para redirecionar a utilização do dinheiro público no apoio às famílias, às empresas e às suas próprias instituições.
Este é o tempo para apostar nas pessoas, garantindo que não volta a acontecer a fuga dos mais jovens, que continuam a ser a mais bem preparada geração de sempre. Mas este é também o tempo de transformar o país, aproveitando o financiamento extraordinário que a pandemia nos trouxe, o que só acontecerá se o governo e os empresários forem capazes de o tornar atrativo para a mão-de-obra que nos falta.
Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra