O talento de Mike Oldfield regressa "on the rocks"

O criador de Tubular Bells lança álbum de originais, o primeiro em seis anos, num estilo revivalista de um certo rock dos anos 70
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O multifacetado compositor e intérprete Mike Oldfield está de volta com Man on the Rocks. Em plena segunda década do séc. XXI, o músico de 60 anos resolveu fazer aquilo que não fez na juventude: um disco de canções de rock, bem ao género dos anos 70. E que ao mesmo tempo surpreende.

Não faltam na internet clubes de fãs de Oldfield. Mas nem a sua mediática atuação na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, apaga a noção de que ele é, provavelmente, um dos artistas britânicos mais menosprezados da história.

Para esta ideia contribuem vários fatores - a começar pela personalidade do músico. Tímido, avesso a entrevistas, Oldfield é, ele próprio, uma contradição entre termos: um artista pop/rock low profile. Além disso, tem um enorme problema - nunca superou o facto de o seu magnum opus ser o primeiro disco. Tubular Bells, gravado em 1972 (tinha Oldfield 19 anos) e lançado em 73, mostrou ao mundo um jovem capaz de tocar como poucos 20 instrumentos, em quase todos os estilos que a música ocidental conhece. Por isso, dizem os mais "venenosos" que Mike Oldfield só tem um disco - todos os outros 24 álbuns ou repetem o primeiro ou são de fugir...

Nada mais injusto. Realmente, Mike "reciclou" Tubular Bells pelo menos quatro vezes - Tubular Bells II (1992), Tubular Bells III (1998), The Millennium Bell (1999) e Tubular Bells 2003 (2003). Mas também é um facto que ele marcou a pop dos anos 80 (incontornáveis os singles Moonlight Shadow, To France, Shadow on the Wall...); entrou em 1990 com o ímpar Amarok, um disco instrumental que é um único tema de 60 minutos; experimentou o chill out em 2002 com Tr3s Lunas e, em 2008, compôs para orquestra Music of the Spheres . Poucos artistas criaram na música tanta coisa tão diferente.

Man on the Rocks, o 25.º álbum de originais de Oldfield, lançado no início do mês, mostra mais uma faceta do artista. É um álbum de canções, sem qualquer tema instrumental - só o medíocre Earth Moving (1989) até agora fora assim - que nos remete para o rock dos anos 70 de Toto ou Steve Miller Band, como logo apontaram quase todos os críticos internacionais.

Mas é também um conjunto de temas que nos atira, canção após canção, para o ambiente agradável de uma época passada - que, porque idealizada, hoje só existe na nossa imaginação. Quem canta as 11 faixas é um jovem chamado Luke Spiller - vocalista da banda The Struts. Tem a voz ideal para o estilo pretendido. E quando a interpretação parece estar prestes a cair na vulgaridade, surge sempre um pormenor instrumental com o típico "toque" de Oldfield a dar à música a sonoridade que faz a diferença.

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