O sucessor de Mario Draghi tem de responder a algumas perguntas difíceis
As instituições bem concebidas devem ser imunes a maus líderes, pelo menos até certo ponto. Infelizmente, não é o caso da zona euro, onde a próxima ronda de nomeações tem mais importância do que deveria ter. A escolha do sucessor de Mario Draghi como presidente do Banco Central Europeu em novembro de 2019 será a mais importante. Há uma boa hipótese de os líderes europeus falharem, a vários títulos.
Não seria má ideia se eles iniciassem o processo com um exercício hipotético: o que teria acontecido se o lugar tivesse ido para um banqueiro central mais convencional do que Mario Draghi? Teria o Conselho do BCE convergido para os mesmos pontos de vista e as mesmas políticas? Eu tenho sérias dúvidas.
O principal contributo de Draghi não foi a sua famosa promessa em 2012 de "fazer o que for necessário" para acabar com a crise. Isso foi importante na altura, mas nunca foi traduzido em lei. Muito mais significativo foi o início do quantitative easing (flexibilização quantitativa) em março de 2015, mais crucial do que a instituição do Mecanismo Europeu de Estabilidade em 2012 ou o início da união bancária em 2014.
Anteriormente, Draghi era cético em relação aos benefícios do QE, mas mudou de opinião quando percebeu que as políticas convencionais eram insuficientes para enfrentar as pressões deflacionárias que a zona euro enfrentou durante os anos de austeridade orçamental. Sem essa mudança na política, a zona euro poderia ter-se facilmente desintegrado.
Os líderes da zona euro têm agora de encontrar um sucessor com uma antena igualmente sintonizada e a disponibilidade para mudar de rumo quando os factos mudam. Esses candidatos são escassos. É possível, mas não certo, que a Alemanha vá propor Jens Weidmann, presidente do Bundesbank. Weidmann votou contra todas as decisões importantes do BCE nos últimos anos, incluindo o QE. Não é evidente que ele consiga forjar um consenso no Conselho do BCE.
Erkki Liikanen, o governador do banco central finlandês, é um exemplo raro de um banqueiro central do Norte da Europa que apoiou Mario Draghi até ao fim. Mas, por outro lado, é possível que Klaas Knot, o governador de linha dura do banco central holandês, seja o escolhido.
Eu partilho o ceticismo dos críticos de Jens Weidmann, mas eles não se deviam concentrar demasiado nas suas características pessoais ou na sua nacionalidade. Em relação a qualquer nomeação europeia de alto nível, deve ser observado um equilíbrio de geografia, género e política, e a regra tácita de não se poder ter dois candidatos consecutivos da mesma nacionalidade.
A melhor maneira de avançar é abordar a seleção dos candidatos através de uma lista de perguntas difíceis.
A mais importante é o que eles vão querer fazer com os 2,3 mil milhões de euros em títulos soberanos na folha de balanço do BCE? Esse número será maior no próximo ano. Eles vão querer mantê-los, vender alguns, todos, ou transformá-los em eurobonds, o que o BCE estaria tecnicamente em posição de fazer? A sua folha de balanço é o mais próximo que temos de um único ativo seguro na zona euro. Sem ela, o sistema pode tornar-se vulnerável novamente. Eu eliminaria todos os candidatos que vendessem os títulos.
A pergunta seguinte é se os candidatos partilham o compromisso de Mario Draghi com "o que for necessário". Pode não ter sido tão importante quanto o QE, mas ainda importa. A zona euro não possui uma estrutura de governança sólida instituída. Continua inerentemente vulnerável.
Os candidatos protegeriam a zona euro se um Estado membro entrar em incumprimento? Eles são a favor de um mecanismo de reestruturação da dívida soberana automático ou semiautomático, como é a Alemanha, ou partilham do ceticismo francês? Esta é uma pergunta política a que eles podem recusar-se a responder. Mas o banco central desempenharia um papel fundamental se isso acontecesse.
O objetivo destas perguntas é determinar se os candidatos têm uma compreensão clara dos riscos futuros e como veem o seu papel como potenciais presidentes do BCE na gestão desses riscos. Isso deve ser mais relevante do que o facto de eles serem alemães, franceses ou finlandeses. A verdadeira questão não é se Jens Weidmann é a pessoa certa para o cargo, mas sim a escassez de candidatos de países com uma hipótese plausível de assumir o lugar.