"O setor do turismo precisa de estabilidade política"
Gostaríamos de lhe fazer duas ou três perguntas de análise política, fazer de si um comentador de política, num país que tem tantos. O apoio do Bloco e do PCP a este executivo ainda assusta os empresários, ainda assusta os investidores estrangeiros?
Com tantos analistas políticos, quer mesmo que eu seja analista político.
Quero, quero. [Risos].
Mas eu não tenho jeito nenhum para analista político.
Mas pode ser com base na sua experiência, nomeadamente na área do turismo, porque é importante.
Então vamos lá a ver uma coisa, o que é que nós podemos dizer e não renegarmos aquilo que dissemos. Quando se encontrou esta fórmula, há um ano, como estava a dizer e bem, nós não ficámos confortáveis com esta fórmula. Nós éramos mais adeptos, digamos assim, de uma fórmula tipo bloco central.
O "centrão artificial", como lhe chamou o Presidente da República esta semana.
O centrão artificial. Ora bem, mas porquê? O governo do Partido Socialista tem um acordo, todos sabemos, com o Partido Comunista e com o Bloco de Esquerda. O que acontece é que esses dois partidos manifestam posições públicas que não são aquelas que a gente defende. Nós somos a favor da NATO, a favor da Europa, nós somos pelo Tratado Orçamental. De facto, passou um ano, não é? Eu diria que tem havido, e penso que, se calhar, já estou a antecipar uma segunda pergunta, mas tem havido alguma - deixem-me ter aqui algum cuidado com as palavras -, alguma habilidade do governo, em geral, e do primeiro-ministro, em particular...
Era essa a pergunta que lhe ia fazer. [Risos].
Acho que tem sido, de facto, um motor importante no sentido de - nós não conhecemos mas não temos dúvidas de que há - muita negociação e muita conversa de bastidores. E, neste momento, eu dir-lhe-ia que, passado um ano, não vamos negar aquilo que dissemos, mas estamos a trabalhar normalmente.
Mas, já agora, isso é só mérito do primeiro-ministro, da atuação do primeiro-ministro ou também houve da parte do Bloco e do PCP uma aproximação a essas posições?
Vamos lá ver, isso não lhe posso dizer, porque aquilo que a gente tem visto são mais as posições do primeiro-ministro e menos do Bloco. Agora, há aqui uma figura que penso que tem sido incontornável e que não poderia deixar de falar nele.
Que é o Presidente da República.
Exatamente, que é o senhor Presidente da República, que tem sido perfeitamente determinante neste jogo e neste xadrez político. E, posso dizer-lhe, particularmente, no que ao turismo diz respeito, tem sido incansável: a falar connosco, a receber-nos, em tudo.
Há uma sondagem da Universidade Católica, publicada pelo Diário de Notícias e pelo Jornal de Notícias este fim de semana, que revela que o PS está muito perto de uma maioria confortável - 43% -, o que é próximo de uma maioria absoluta. Ficaria mais descansado, mais satisfeito, de ter uma maioria absoluta do PS do que ter o PS coligado com partidos mais à esquerda?
Se pudesse escolher, preferia.
Falou do Presidente da República. Ele fez um elogio à estabilidade política. A estabilidade é um valor que, no limite, se deve sobrepor também às cores políticas de qualquer governo?
Para final só fazem perguntas difíceis, não é? [Risos]. Nós não temos dúvidas nenhumas de que defendemos a estabilidade. A estabilidade é perfeitamente determinante. Nós estamos numa ati-vidade - e, aqui, mais do que politicamente -, numa atividade económica que é o turismo e, para o turismo, a estabilidade é fundamental. E tem-se visto, porque, de facto, tem havido estabilidade, o ano de 2016 vai ser, novamente, um ano recorde. Temos as indicações todas para o ano de 2017, inclusive todos os grandes congressos, apresentações automóveis, já temos muito negócio ganho em 2017, temos muita pré-reserva para 2017. E, se nada de anómalo acontecer - e, nessa anomalia, está a falta de estabilidade, claramente - e se continuarmos com o ambiente com que temos estado, podem contar com o turismo para continuar a ajudar o país a sair da crise em que estivemos.