"O sentimento dos irlandeses ainda é de que o país serve melhor os seus interesses na UE"

Economista irlandês e diretor-geral do Institute of International and European Affairs, Tom Arnold, diz que se resultados eleitorais forem inconclusivos o Fine Gael e o Fianna Fáil poderão ser obrigados a formar uma grande coligação
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O primeiro-ministro irlandês, o conservador Enda Kenny, usou Portugal como exemplo para dizer que a instabilidade política pode prejudicar a recuperação económica e assim pedir aos irlandeses que apostem na continuidade da coligação entre o Fine Gael e o Labour. É um argumento válido?

Usar o exemplo de Portugal faz parte da estratégia de reeleição. Esta consiste em dizer que o seu governo devolveu a recuperação económica ao país, a partir de uma situação muito difícil que encontrou em 2011, pedindo a continuidade do executivo e das suas políticas. Ele argumenta que qualquer desvio dessas políticas poderá conduzir a situações semelhantes às que ocorreram noutros países da União Europeia com dificuldades económicas muito semelhantes às da Irlanda, não só Portugal, mas também a Grécia e a Espanha.

As últimas sondagens mostram que a coligação entre o Fine Gael e o Labour poderá não renovar a maioria absoluta necessária para ter um governo estável. Acha que isso acontece porque a tão falada recuperação económica não tem chegado da mesma forma a todos os irlandeses?

As últimas sondagens apontam para resultados inconclusivos. Isso significa que os partidos do governo cessante não terão assentos suficientes para formar governo e será difícil haver outras combinações de partidos, como Fine Gael-Fianna Fáil (conservadores e centro-esquerda). Nem um nem outro concordariam em formar governo com o Sinn Féin (nacionalistas que querem a união com a Irlanda do Norte) e vice-versa. Uma das outras grandes questões que irão determinar se é provável ou não que haja uma combinação de partidos será o resultado que tiverem os independentes e quão bom ou mau será o resultado do Labour.

Seria possível assistir a uma crise política como a que vemos agora em Espanha?

É difícil dizer. O que vimos no passado é que os políticos chegam a compromissos que permitem a formação de governo. No início dos anos 1980 houve uma série de resultados inconclusivos que levaram a três eleições no espaço de 18 meses. Os dois partidos maiores não podem ser forçados a uma grande coligação. Mas se não houver nenhuma alternativa realista haverá pressão nesse sentido. Os apostadores também mostram que esta é uma forte probabilidade.

O Sinn Féin vai acabar por se revelar um ator importante após estas eleições?

As sondagens sugerem que o Sinn Féin vai definitivamente ganhar mais assentos parlamentares do que os que tem atualmente. A questão é saber quantos.

A União Europeia encontra-se, uma vez mais, numa situação-limite, com o referendo britânico sobre o brexit. Já vimos isto no passado com o Tratado de Lisboa, sobre o qual os irlandeses tiveram de votar duas vezes em dois referendos (realizados em 2008 e 2009). Até o aprovarem. Isso, porém, não ajudou a prevenir a necessidade de um resgate da troika. Qual é, hoje em dia, o sentimento do povo irlandês em relação à União Europeia?

O sentimento geral dos irlandeses ainda é o de que a Irlanda serve melhor os seus interesses estando dentro da União Europeia e desempenhando um papel positivo na UE. Isto apesar de a UE enfrentar grandes desafios, como a crise migratória e da governação económica. Existe um entendimento na Irlanda, tanto a nível político como público, de que não seria do interesse da Irlanda que o Reino Unido saísse da União Europeia.

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