"O semáforo está ligado": Scholz chega a acordo para o pós-Merkel

Documento de 177 páginas terá agora de ser aprovado pelos três partidos que formam a coligação, num processo que deverá estar concluído na segunda semana de dezembro.
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Se tudo correr como previsto, Olaf Scholz tomará posse como novo chanceler da Alemanha o mais tardar a 8 de dezembro, 73 dias depois de ter ganho as eleições, pondo fim aos 16 anos da era da conservadora Angela Merkel. O Partido Social-Democrata (SPD), os Verdes e os liberais do Partido Democrático Livre (FDP) deram ontem por terminadas as negociações em tempo recorde - a anterior coligação demorou 171 dias a tomar forma. "O semáforo está ligado", disse o social-democrata Scholz, referindo-se ao nome pelo qual é conhecida a coligação (das cores vermelha, verde e amarela dos partidos). Ao seu lado estavam os novos aliados, que formam parte do núcleo duro do futuro executivo paritário.

As 177 páginas do acordo têm agora de ser aprovadas pelos três partidos da coligação - inédita a nível federal. O SPD e o FDP vão votar o texto em congressos, nos dias 4 e 5 de dezembro, enquanto os Verdes vão convocar os militantes para decidir, num processo que deve durar dez dias. Com os conservadores da CDU em crise depois da derrota eleitoral (o líder Armin Laschet está de saída) e a nova vaga da pandemia de covid-19 a bater os recordes das anteriores (exigindo uma rápida ação) nada aponta para o chumbo do acordo. Mas este não é um casamento perfeito.

"Estamos unidos pela vontade de tornar este país melhor", disse Scholz, de 63 anos, explicando que as negociações foram feitas "numa atmosfera amigável, mas intensa, numa atmosfera cheia de confiança". Além da chancelaria, o SPD, de centro-esquerda, ficará com mais cinco ministérios, incluindo o da Defesa, o do Interior e o da Saúde.

Os Verdes (que foram terceiros nas eleições de 26 de setembro) vão ficar com quatro pastas, entre elas a do superministério de Economia e Clima, que ficará nas mãos do colíder do partido Robert Habeck. Este descreveu o acordo como um documento de "coragem e confiança" e, segundo a imprensa alemã, poderá ainda ficar com o cargo de vice-chanceler.

A outra colíder dos Verdes, Annalena Baerbock, que foi a candidata a chanceler, será a primeira mulher a assumir a chefia da diplomacia alemã. Na apresentação do acordo, prometeu voltar a pôr os direitos humanos no centro da política externa do país, defendendo maior firmeza em relação à Rússia e à China. Scholz tinha antes falado na importância da "soberania da Europa" e destacado a amizade com a França e os EUA.

Os Verdes ficam assim com dois importantes ministérios, mas não com o das Finanças, como gostariam. Essa pasta, atualmente de Scholz, passará para Christian Lindner, o líder do FDP (que foram quartos nas eleições). O problema é que quem controla as Finanças controla o orçamento e o que os outros podem gastar - e os Verdes querem um grande programa de investimentos para avançar na luta contra as alterações climáticas. O ministro das Finanças tem direito de veto sobre todos os outros, apesar de bastar uma simples maioria para reverter essa decisão. Esta pasta tem ainda peso político a nível internacional, nomeadamente a nível europeu. Os liberais ficam ainda com mais três ministérios, incluindo Justiça e Educação.

A prioridade imediata é lidar com a pandemia de covid-19, estando prevista a criação de uma "equipa de crise" a nível federal e na mesa está a possibilidade de tornar a vacinação obrigatória para alguns grupos. Há ainda a promessa de reservar mil milhões de euros para pagar um bónus aos profissionais de saúde. Mas há muitas mais prioridades, como voltar a introduzir em 2023 o limite ao teto da dívida (suspenso pela pandemia) e garantir que não haverá aumento de impostos, sendo ambas uma vitória para o FDP.

Os sociais-democratas conseguiram, por seu lado, o aumento do salário mínimo para os 12 euros por hora (atualmente é de 9,60 euros). Já os Verdes veem a data do fim do carvão ser adiantada, passando de 2038 para 2030, e conseguem baixar a idade de voto para os 16 anos, algo que o FDP também vê com bons olhos. Os dois partidos têm um eleitorado jovem, devendo esta medida prejudicar principalmente a CDU de Merkel. Ambos também queriam a legalização da canábis, que vai avançar.

No setor da habitação, que ganha um ministério à parte para o SPD, a ideia é construir 400 mil casas novas por ano e apertar ainda mais o controlo sobre as rendas (nas zonas de maior pressão, só podem subir 11% em três anos).

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