O segredo embaraçoso do peru

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O peru chegava e era um alvoroço. Entre o medo do bicho - realmente medonho - e a excitação de ter em casa um monstro condenado a morrer, aqueles dias antes do Natal já não eram só a curiosidade dos presentes - poucos, naturalmente. A presença do peru era um segredo que partilhávamos entre um pouco de vergonha e muitas gargalhadas. Resultava de uma suposta cunha, esse sistema que na época - como ainda agora - regia empregos e outros favores.

O meu pai era militar e os vendedores de ovos, frangos, coelhos e perus lá da praça tinham-lhe pedido que interviesse para que o filho não fosse à guerra. Tinham tentado tudo, tinham pedido ajuda a generais, brigadeiros, coronéis, tenentes-coronéis e majores e respetivas mulheres, sogras e cunhadas. Um capitão não era homem de poder, ficou para o fim. Ninguém resolvia o assunto. Num momento de desalento falaram ao meu pai, quem sabe o que pode acontecer, não se perde nada por pedir.

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