Toda a gente já fez a sua própria piada a pretexto da transformação plástica de Alexandra Lencastre. Pessoalmente, ocorreu-me que a atriz de Rua Sésamo - peço desculpa pela referência, mas cada um guarda de cada estrela a sua memória preferida, e eu já começo a ser um homem antigo - tivesse presenciado um homicídio e aderido a um programa de proteção de testemunhas, como nos filmes..De resto, deplorar aquilo que a televisão e a ditadura da imagética e a sociedade de consumo em geral podem obrigar uma mulher bonita a fazer não passa do nível mais básico de abordagem. O facto é que a televisão, como o cinema e o teatro, está cheia de mulheres que nunca fizeram plásticas. Que nunca as fizeram por princípio e/ou que nunca as fizeram por valor, o que são duas coisas diferentes..Há, infelizmente, menos papéis para elas. E há-os ainda menos quando se dá o caso de envelhecerem "pior". Algumas, porém, conseguem furar essa barreira. Fazem-no todas elas numa soma de razões, mas entre estas, uma absolutamente invariável: porque o seu talento é superior à sua beleza. E, então, surge-nos no ecrã um olhar, uma sabedoria e uma aura que nenhuma miúda de 30 anos alguma vez conseguirá forjar..O novo look de Alexandra Lencastre é, em parte, a assunção da incapacidade para vingar a esse nível. Mas a tragédia é apenas essa. O resto, e se se trata de uma alteração subtil sem mudança de expressão (como diria Lili Caneças, a senhora do peeling) ou numa verdadeira transformação em nova pessoa (como parece ter acontecido), é o menos..Assim como assim, mais ano menos ano estamos todos a fazer tijolo. E bem pode acontecer que o mundo acabe mesmo para a semana.