O Romantismo na Pena em Dia de São Valentim
Lugar por excelência ligado ao rei D. Fernando II e à condessa d"Edla, sua segunda mulher, o Palácio da Pena foi também lugar de frequente prática musical, ou não fosse D. Fernando um grande melómano e a sua mulher uma ex-cantora lírica. É essa memória que se vai recuperar nos próximos quatro fins de semana, com a 2.ª edição dos Serões Musicais no Palácio da Pena.
Para o recital de abertura, intitulado Quadros da Natureza, um dos intérpretes é o pianista António Rosado, que irá partilhar o palco com o jovem Quarteto de Cordas de Matosinhos (QCM). "Gosto muito de tocar com a geração mais nova, pois traz sempre uma motivação e um espírito diferentes às interpretações", começa por dizer. "Novo" que, porém, no caso do QCM, engana: "Eles já têm muita experiência e já tocámos juntos algumas vezes, mas por acaso nunca aqui na zona de Lisboa, mas sempre mais a norte." Para ele, a música de câmara representa "partilha, aprendizagem e afeto. E significa descobrir coisas novas com os outros e com a forma como sentem a música, e evoluirmos com elas".
Quanto à obra que os junta, também não é novidade: "Já toquei o Quinteto a Truta algumas vezes - lembro um festival do Algarve há alguns anos. É uma obra jovial e muito bem-disposta e, talvez por ter sido pedida por um amador, não é de execução complexa." Mas esse "lado simples", observa, "é não raro mais difícil de transmitir do que complicado de tocar..." e cita como exemplo "a grande transparência" exigida na interpretação.
Curiosamente, Schubert nem é uma presença muito regular nos recitais de Rosado, que se "defende": "Não é por não gostar, e até gostava de fazer a integral das suas sonatas, como fiz com Mozart e Beethoven." A questão é que "tento sempre ter a clarividência de perceber quando estou preparado para esta ou para aquela música, para este ou aquele compositor" e ele associa Schubert a "uma maturidade grande, capaz de mergulhar bem fundo em vários parâmetros, os quais requerem experiência e uma grande capacidade de interiorização do pensamento musical".
Falar da Pena e de música é falar de José Vianna da Motta (1868--1948), grande pianista, compositor e pedagogo que em pequeno ia muitas vezes lá tocar para o rei e a condessa: "O Vianna da Motta "esteve" presente na minha vida de duas formas: primeiro, porque concorri à edição de 1983 do concurso de piano com o seu nome [criado por Sequeira Costa nos anos 50], em que obtive o 4.º prémio [não houve 1.º], depois porque gravei várias obras suas para piano solo para a coleção Strauss Portugal Som." No recital de domingo, a outra obra em programa é o Quarteto de cordas Cenas da Montanha, de Vianna da Motta.
Mas se no domingo tocasse a so-lo, e sendo na Pena, "escolhia Schubert, pela ligação à natureza; e, por estarmos nesta época pré-primaveril, Mozart, pela sua transparência. Depois, relacionado mais com o potpourri arquitetónico que é a Pena, acho que incluía umas obras exuberantes de Liszt, talvez as Paráfrases sobre óperas de Wagner!"
António não é um neófito na Pe- na: "Lembro-me de ter tocado lá, há muitos anos, na década de 80, num recital com o violinista Aníbal Lima, integrado no Festival de Sintra. Mas foi noutro espaço."
A edição 2016 deste festival tê--lo-á de novo como participante "e, antes disso, toco com orquestra nos Dias da Música [abril] e na Casa da Música [20 maio] e a solo no Teatro São Carlos [28 maio]". Além de um recital-Debussy no CCB, porque no domínio discográfico, "no início de junho, vai ser lançada a minha gravação dos dois cadernos de Prelúdios de Claude Debussy na editora espanhola Calan- vdaMusic". Prevê, por isso, "uns recitais em Espanha associados ao CD", estando ainda no horizonte uma ida à Alemanha.
Em música de câmara, o próximo compromisso "é com uma obra fantástica, que vou tocar pela primeira vez: o Concerto para Piano, Violino e Quarteto de Cordas, de Ernest Chausson - e nesse, a parte de piano paga-se caro!", remata, a brincar, numa alusão à mais "fácil" do Quinteto que toca amanhã. Será em Almada e em Torres Vedras, integrado na Temporada Darcos.
Os Serões Musicais do Palácio da Pena, cuja segunda edição assinala os 200 anos do nascimento de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Go- tha, têm mais três estações: dias 20 e 27 e fecho a 4 de março, sempre às 21.00. Os títulos são pitorescos: respetivamente, Virgens Alpinas, A Trompa Maravilhosa do Romantismo e Um Suplemento do Chiado: A Sintra Queirosiana. Todos eles incluem canto no programa.
Serões no Palácio da Pena
Obras de Vianna da Motta e Schubert Rosado, Vares, Quarteto Matosinhos Salão Nobre, dia 14, 21.00 (Conferência musicóloga Luísa Cymbron às 20.30)
bilhetes a 10 euros