Voltemos por momentos à década de 70 do século XX. Alguns cientistas estão preocupados com a explosão demográfica, a exaustão de recursos e o envenenamento dos produtos agrícolas por insecticidas. Prevêem guerra, fome e queda da esperança de vida para a década de 80. Não aconteceu. Outros cientistas estão preocupados com os riscos potenciais de uma técnica recentemente descoberta: a engenharia genética (a mesma que serve para fazer organismos geneticamente modificados). Ninguém parece particularmente preocupado com a emergência de uma doença que ataca o sistema imunitário e que se transmite por via sexual ou por transfusões sanguíneas..Os riscos decorrentes da explosão demográfica e os riscos da engenharia genética eram aquilo a que podemos chamar os riscos mediáticos dos anos 70. Os modelos matemáticos usados para prever os riscos da explosão demográfica estavam errados e a catástrofe económica e social prevista nunca ocorreu. A engenharia genética era uma técnica nova com riscos desconhecidos. A sida era uma doença desconhecida que só foi detectada na década de 80. Aquilo que foi previsto nunca aconteceu, aquilo que aconteceu nunca foi previsto..Em cada momento estão em discussão na opinião pública riscos mediáticos. Mas existem muitos outros riscos que não são mediáticos. Alguns nem sequer foram ainda detectados pelos especialistas. O que deviam ter feito os responsáveis pela segurança pública nos anos 70? Um grupo de cientistas sugeria o congelamento da investigação em engenharia genética. Ninguém pedia medidas contra a sida. Os responsáveis pela segurança pública podiam ter feito alguma coisa para minimizar as consequências da sida? .Não é possível tomar medidas concretas contra riscos de que ninguém detectou. Por exemplo, se não sabemos o que é a sida, não sabemos que o preservativo poder ser usado para a controlar. Mas será que é possível seguir algum princípio que nos prepare para riscos de que ninguém previu? Por acaso até é. Uma sociedade está mais preparada para riscos imprevistos se for rica, se os seus membros tiverem liberdade para experimentar novas técnicas e novas formas de relacionamento social e se os riscos mediáticos não forem sobrevalorizados. O melhor que os responsáveis pela segurança pública fizeram nos anos 70 para controlar a sida foi permitir a investigação em engenharia genética. É que a engenharia genética acabou por contribuir para o estudo e o tratamento da sida. A questão que se coloca a nós que vivemos em 2007 é a seguinte: se formos conservadores em relação às novas tecnologias por causa do mediatismo dos respectivos riscos não estaremos a enfraquecer a nossa capacidade para enfrentar outros riscos de que nunca ouvimos falar?