Quando O Homem Que Engarrafava Nuvens está quase a chegar ao fim, Caetano Veloso explica que o tropicalismo foi tão influenciado pela música de Humberto Teixeira como pelos filmes da Nouvelle Vague francesa ou pelo rock anglo-saxónico. Esta afirmação pode parecer um pouco excessiva - principalmente em Portugal, onde o compositor não é conhecido pelo grande público, ao contrário do que ocorre no Brasil - mas é ilustrativa do lugar que o autor ocupa na história da música brasileira..De facto, entre os admiradores de Humberto Teixeira contam-se artistas como Caetano, Gal Costa, Gilberto Gil ou Chico Buarque, mas também o ex-vocalista dos Talking Heads, David Byrne, que há anos cantou uma versão de Asa Branca, um dos mais emblemáticos temas do brasileiro. O documentário de Lírio Ferreira vale precisamente pelos depoimentos destes intérpretes, que combina com uma série de imagens de arquivo e filmagens de versões de músicas do autor..Além de retratar a evolução do baião e da própria música brasileira, este filme serve também de pretexto para a actriz Denise Dummont, filha de Humberto Teixeira, descobrir quem foi realmente o seu pai, aquele artista, político e intelectual com quem viveu durante largos anos, sem nunca o conhecer verdadeiramente enquanto pessoa. Convém notar que esta é a última oportunidade para ver o documentário, que hoje passa no Cinema City Classic Alvalade, pelas 00.15.