O (re)nascimento do homem do pijama

Paulo Zé Pimenta, ou melhor, PZ, apresenta esta sexta-feira o seu novo álbum, "Império Auto-Mano", no Plano B, no Porto, ponto de partida para uma minidigressão que chega ao MusicBox, a Lisboa, no dia 25 de fevereiro.
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PZ está de regresso com o novo Império Auto-Mano, um disco em que a sua "música desfragmentada" volta a embalar as letras de humor refinado e crítica mordaz que o transformaram este produtor portuense num dos maiores fenómenos de culto da pop nacional nos últimos anos. Um "disco maduro", como o próprio o apresenta ao DN, que é amanhã, pela primeira vez, apresentado ao vivo, num concerto no Plano B, Porto

Poucas pessoas saberão quem é Paulo Zé Pimenta ou até mesmo PZ, o seu heterónimo musical. Mas se à descrição acrescentarmos o nome de músicas como Cara de Chewbaacca ou Croquetes, já serão com certeza muitos mais a lembrar-se do "gajo do pijama", que na última edição do Mexefest encheu por completo a Sala Montepio do Cinema São Jorge, num dos concertos mais concorridos do festival.

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"A primeira vez que percebi que tinha público foi num concerto no Debandada, no Porto. Foi a partir daí que decidi começar a apostar mais nesta personagem", confessa Paulo Zé ou PZ, como é hoje muito mais conhecido. O fenómeno, como tantos outros, nestes novos tempos, começou com uma música - ou neste caso um vídeo -, Croquetes, depressa tornada viral no youtube e demais redes sociais. Tal como aconteceu depois, com temas como As Autarquias, Cara de Chewbacca e Tu És a Minha Gaja, em que uma eletrónica simples, algures entre o hip-hop e o techno, mas assumidamente pop, embalava as letras, plenas de ironia e non-sense.

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Mas PZ nasceu muito antes disto, há mais de 10 anos, pouco tempo depois do regresso de Paulo Zé dos Estados Unidos, onde estudou novas artes de media, em Boston. "Quando regressei sentia-me numa encruzilhada. Não sabia o que fazer da vida, caí numa depressão clínica e, de certa forma, pode-se dizer que foi a música que me salvou", recorda.

A música entrou-lhe vida adentro ainda na adolescência, quando, trancado no quarto e de forma completamente autodidata, começou a sacar beats no computador, com a ajuda de um sampler e um ou dois sintetizadores. E foi a ela que então se agarrou. "Passava o tempo em casa e foi a minha família que me sugeriu voltar a fazer música, apenas para me entreter. Não pensava então em fazer qualquer disco, mas o trabalho foi tomando forma e, em 2005, editou Anticorpos, o primeiro trabalho assinado como PZ.

"Escolhi esse título porque a música foi o anticorpo que me permitiu sair do buraco. É o meu álbum menos conhecido, mas também o mais negro e mais pessoal", afirma. Serviu também para lançar as sementes do futuro PZ, "na maneira de cantar e na roupagem das músicas", apesar de a personagem só voltar a regressar em força alguns anos depois.

Com o irmão, Zé Nando Pimenta, funda então a editora Meifumado (e respetivo estúdio), pela qual edita, em 2012, o segundo trabalho de PZ, Rude Sofisticado. "À medida que fui ficando bem comigo próprio, o projeto evoluiu para esse lado mais satírico, que é hoje mais associado ao PZ", explica.

É nessa altura, depois de já ter dado a conhecer no youtube alguns vídeos, que decide começar a dar concertos e assumir de vez a personagem. "O PZ tem tudo a ver comigo. É um bocado como eu, que também não sou uma pessoa muito expansiva. Daí a minha postura mais séria, em palco. Não é a minha vida, mas é muito baseado na minha vida. As músicas nascem de pensamentos soltos e cada disco marca uma fase da minha vida. Tento sempre ser o mais genuíno naquilo que faço, porque também é um modo de dar sentido ao PZ, em termos artísticos", esclarece.

Em 2015, quando surge o álbum Mensagens da Nave-Mãe, PZ é já um verdadeiro fenómeno de culto, um estatuto que ainda hoje espanta o músico. "Sempre fiz isto um bocado no gozo e nunca pensei que as pessoas gostassem ou sequer percebessem, porque uso expressões muito minhas ou usadas pela minha família. Há pessoas que não me levam a sério, mas esse é um risco que qualquer artista corre. Até eu, por vezes, não sei muito bem como me relacionar com as minhas letras", diz com humor.

Há até quem considere a sua música de intervenção. PZ não recusa totalmente o rótulo: "talvez eletrónica de intervenção, no sentido de subverter rótulos e conceitos, mas não se limita apenas a isso, também falo muito sobre relações pessoais", corrige. Temáticas que volta a abordar no novo Império Auto-Mano, considerado pelo músico o seu disco "mais maduro". "Estou na fase de lua-de-mel, em que acho este trabalho o meu melhor de sempre. É claramente um disco, com início, meio e fim e não apenas um conjunto de músicas", salienta.

O título, explica, é um trocadilho, a exemplo de grande parte das suas letras, que não só "tem a ver com a atual conjuntura internacional", mas "também com o facto de vivermos cada vez mais ligados às máquinas" - Já o Mano é simplesmente explicado pelo seu "lado mais brejeiro e do norte".

Império Auto-Mano foi editado esta semana e apresentado pela primeira vez ao vivo com um concerto na cidade natal de PZ, marcado para hoje à noite, no Plano B. Será o primeiro de uma minidigressão nacional de quatro datas, que marca o muito aguardado regresso aos palcos do homem do pijama, a indumentária com que habitualmente se apresenta em palco.

Tudo começou por causa do videoclipe que fez para o tema O Que Me Vale És Tu, gravado às três da manhã e no qual dança em frente da cama. Depois disso, o realizador Alexandre Azinheira, sugeriu-lhe que o mantivesse no vídeo de Croquetes. "Passei a levá-lo também para os concertos e fiquei preso ao pijama. E agora que toco com banda, todos eles usam também pijamas. Somos a irmandade do pijama".

Concertos
Plano B, Porto. 17 de fevereiro, sexta-feira 23h. euro6

Casa das Artes, Vila Nova de Famalicão. 18 de fevereiro, sábado 23h30. euro6

Salão Brazil, Coimbra. 24 de fevereiro, sexta-feira 22h30. euro7

Musicbox, Lisboa. 25 de fevereiro, sábado 22h. euro7

Disco
Império Auto-Mano/PZ
Editora: Meifumado Fonogramas
Preço: euro9,90

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