O regresso da 'Escrava'
Trinta anos depois de ter sido um sucesso sem precedentes por todo o mundo, AEscrava Isaura está de volta, numa nova versão, à RTP.
Sob a direcção de Herval Rossano, o mesmo da versão original passada na Globo em 1976, a novela, agora produzida pela televisão Record, apresenta como protagonista Bianca Rinaldi.
A nova Isaura estreou-se na Globo no Show da Xuxa, mais tarde interpretou o papel da professora de ginástica Úrsula, em Malhação, participou no elenco de Chiquititas e foi protagonista em Pícara Sonhadora e A Pequena Sonhadora, do SBT, o segundo canal mais visto do Brasil. Foi a escolhida num lote de actrizes onde figuravam nomes como o de Mel Lisboa e Cléo Pires.
Ao DN, a actriz revelou que quando foi convidada para interpretar esta protagonista aceitou imediatamente. "Nem hesitei", reforçou. Quanto a uma possível comparação com Lucélia Santos, a actriz que deu vida à primeira Isaura, Bianca ressaltou que respeita muito o trabalho feito anteriormente, mas agora é diferente. "Foi-me dada a oportunidade de fazer a minha Isaura, pelo que me cabia a mim desenvolver essa personagem", afirmou.
Como parceiros de cena vai ter Leopoldo Pacheco, o vilão Leôncio, Theo Becker, que interpretará Álvaro, o par romântico da escrava branca, e ainda Patrícia França, Mayara Magri, entre outros.
O veterano Rubens de Falco, 73 anos, volta ao elenco da novela, para dar vida ao Comendador Almeida, pai do vilão, e, cheio de expectativas em relação a este trabalho, acredita "no sucesso desta obra, pois o tema é intemporal". "Devemos discutir a liberdade em qualquer época, já que somos constantemente colonizados", concluiu.
O novo guião, escrito por Tiago Santiago e Anamaria Nunes, vai ter mais 60 episódios a juntar aos cem da versão original, escrita por Gilberto Braga.
LIBERTAÇÃO. Esta novela conta a história de Isaura, uma escrava branca, que luta pela sua libertação e a dos seus congéneres, ao mesmo tempo que é perseguida por um malévolo fazendeiro. Pelo meio, apaixona-se por um abolicionista que a vai auxiliar a atingir os seus propósitos.
O realizador, Herval Rossano, confessou que nem se lembrava da versão original, mas compreende "que, sendo a Globo uma potência, tenho que a respeitar. Mas acho que não fiquei a dever nada a ninguém" com a nova versão.
As gravações dos exteriores do trabalho decorreram na fazenda Santa Gertrudes (Rio Claro), a duas horas de São Paulo. O período de gravações foi árduo para actores e equipa técnica, porque se estendia, diariamente, das 08.00 às 21.00.
A música do genérico original, Retirante, escrita por Jorge Amado e Dorival Cayman, é recordada por maquilhadores, figurinistas e produtores. O Lerê Lere, que se relaciona com o murmúrio do trabalho dos escravos, é entoado nos bastidores ao dar a largada para mais uma jornada de 12 horas nos estúdios da Record, em São Paulo.
Todos os cenários foram devidamente cuidados, tendo em consideração desde o guarda-roupa ao mobiliário da época. Cada episódio custou perto de 65 mil euros, que, segundo a Record, é mais do que a Globo costuma despender na sua novela principal que passa no horário das 20.00.
receptividade. As audiências no Brasil marcaram valores dificilmente alcançados pela televisão Record, que normalmente é batida pela incontornável Globo e pelo SBT. A novela chegou a registar 17% de share, segundo valores do IBOPE (o equivalente à Marktest portuguesa).
Bianca Rinaldi confirmou ao DN que teve "um óptimo retorno dos críticos" e que esta novela "mexeu no mercado (televisivo) brasileiro".
Ao contrário da primeira versão exibida em Portugal, esta nova Escrava Isaura vai passar fora do horário nobre. O horário das 14.00 é, ainda assim, um período forte da RTP, devido à liderança quase diária que o Jornal da Tarde tem à hora do almoço.
* Com Filipe Morais