O regresso a casa dos Dead Combo em dose dupla

O espetáculo percorre 15 anos de carreira e apresenta temas do novo álbum
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A pergunta tem sido recorrente, nestes dias que antecedem os dois concertos no teatro da Trindade, que marcam os regresso, após uma longa ausência, dos Dead Combo aos palcos da capital. Mas afinal há quanto tempo é que não tocam em Lisboa? Pedro Gonçalves, uma das metades desta dupla, a do contrabaixo, que se completa com a guitarra de Tó Trips, encolhe os ombros. "Na verdade não sei, a mim parece-me que foi ontem. Mas entretanto percebi que já foi há muito tempo, nem me lembro quando", confessa o músico, explicando com "um certo pudor" a ausência da banda. "Embora isso não corresponda de todo à realidade, temos a sensação de que estamos sempre a tocar em Lisboa e não queremos estar constantemente a chatear as pessoas ", afirma com humor.

Portanto e para matar as saudades convenientemente, nada melhor que uma dose dupla de concertos, repartida entre quinta e sexta-feira, num espetáculo no qual a banda promete passar em revista década e meia de carreira, completados precisamente este ano. Aliás, se há uma banda sonora perfeita para a Lisboa deste início de século e de milénio, ela tem sido permanentemente criada pelos Dead Combo, pelo modo como fundiram os ritmos mais tradicionais da lusofonia, como o fado, a morna ou o choro, com o jazz e o rock, sempre sem medo de arriscar por territórios mais experimentais, alargando cada vez mais as fronteiras da sua música - metafórica e literalmente, como aconteceu há cinco anos, quando uma conversa, lá está, sobre Lisboa, com o chefe de cozinha americano Anthony Bordain, apresentador da série No Reservations, os catapultou para um há muito mais que merecido reconhecimento internacional.

É todo este percurso que será passado em revista neste concerto, conforme promete Pedro Gonçalves. "Vamos fazer uma viagem ao longo da nossa carreira, desde o passado mais distante até ao futuro, porque também vamos já apresentar algumas das músicas a incluir no próximo álbum. Mas não muitas", avisa. Pelo palco do Teatro da Trindade, onde atuam pela primeira vez, vão também passar alguns convidados, como é o caso de Bruno Silva na viola de arco, que os acompanhou enquanto membro das Cordas da Má Fama, de João Marques no trompete, integrante da Royal Orquestra das Caveiras e de Mick Trovoada na percussão, com quem têm gravado alguns dos temas novos. "São pessoas que marcam diferentes fases dos Dead Combo e esse percurso ao longo da nossa carreira, que queremos que este espetáculo seja, também será feito através delas", salienta o artista.


Segundo a lenda, tudo terá começado de forma quase acidental, quando, ainda em 2001 (os Dead Combo só surgiriam oficialmente no ano seguinte), Tó pediu boleia a Pedro, no final de um concerto algures em Lisboa, sem fazer ideia que este também não tinha carro. Durante a longa caminhada até ao Bairro Alto, palavra puxa palavra e ficou desde logo alinhavada a ideia de gravarem um álbum conjunto de tributo a Carlos Paredes, que nunca chegou a acontecer.

Em vez disso, nasceram os Dead Combo, que se deram finalmente a conhecer ao mundo em 2004, com o disco de estreia Vol.1, desde logo bastante elogiado pela crítica. Os álbuns seguintes, Vol. 2 - Quando A Alma Não É Pequena (2006), Lusitânia Playboys (2008), Lisboa Mulata (2011) e A Bunch of Meninos (2014) foram alicerçando cada vez mais uma das mais sólidas e originais carreiras da música portuguesa dos últimos anos, que em breve terá mais um capítulo, para já "ainda sem nome".

Ainda sem querer falar muito sobre como será este novo trabalho, "para não estragar o elemento-surpresa", Pedro Gonçalves revela no entanto que "vai representar uma certa rutura com o passado mais recente". Ao mesmo tempo, desvenda mais um pouco, também foram buscar "algumas referências muito lá atrás, ao início da banda, que a maior parte das pessoas se calhar já nem reconhece como tal". Uma das principais novidades tem a ver com o facto de, pela primeira vez, os Dead Combo irem contar com um produtor exterior à banda - até agora, tinham sido sempre eles os dois a produzirem os seus próprios discos. O escolhido foi o músico e produtor americano Alain Johannes, habitual colaborador de nomes como Queens of the Stone Age, Chris Cornell ou Arctic Monkeys, entre outros e que atualmente anda em digressão com PJ Harvey. Os trabalhos de produção vão começar em Setembro e, "se tudo correr bem", lá para "início de 2018" haverá um novo disco dos Dead Combo, novamente de Lisboa para o mundo.


Dead Combo

Teatro da Trindade INATEL Hoje e amanhã, às 21.30.Bilhetes de 10 a 17 euros

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