O regente, um grande cantor, a carniceira e o marido dela
Rever a encenação de Elena Barbalich oito anos depois expôs-no-la mais frágil, com deficiências várias distribuídas homogeneamente entre a direção de atores/cantores e as soluções cénicas-dramatúrgicas "strictu sensu" (caso gritante: a cena de sonambulismo). Também ao nível da luz se insistiu em demasia... na falta dela - até na cena do banquete era escassa! Na cenografia foram sobretudo o uso da teia e do fundo de palco que agradaram. O principal adereço - o olho que é caldeirão que é mesa que é buraco até às profundezas - continua a ser interessante, mas também ele podia ser valorizado... pela luz. Nos figurinos, foi-se pela fasquia mínima, sobretudo entre os coralistas, por exemplo: na cena do banquete, aquilo são trajes que os principais nobres do reino e respetivas consortes usem?...
Em contraste, tivemos no fosso uma das melhores prestações da Orquestra Sinfónica Portuguesa desde há bastante tempo. Muito competentemente dirigida por Domenico Longo, a OSP teve raros lapsos (violinos), mas a coesão esteve quase sempre lá, tal como a sonoridade verdiana, revelando a boa preparação e o trabalho sério nos ensaios realizado com Longo. Ao nível da articulação fosso/palco, houve uma "partida em falso", no coro inicial das bruxas (1.ª intervenção), quando o "tempo" adotado por Longo causou desfasamento com as coralistas. Por tudo isso, que regresse breve Domenico Longo, após este Macbeth!
Nos cantores, tivemos um grande, um enorme: Giacomo Prestia, baixo (Banco). Tem a voz e tem a escola de um intérprete verdiano como manda a tradição! Raramente lamentámos tanto que Banco desapareça logo no ato II!... Tudo quanto cantou e como cantou foi um regalo.
Elisabete Matos (Lady Macbeth) demorou todo o ato I a "aquecer" e surgiu no ato II em esplêndida forma vocal, forma essa que aliás não igualaria nas restantes aparições. Ela teve de Longo "tempi" bem comedidos para as intervenções mais belcantistas, mas nem isso consegue disfarçar o facto de a sua voz estar cada vez mais distante desse estilo (vide cena de sonambulismo e respetivo final). A seu lado, Ángel Ódena foi um Macbeth muito monocórdico, sempre nos mesmos registo e expressividade, e na ária final Pietà, rispetto, amore teve vários problemas de afinação. A sua presença em palco também deixou amiúde muito a desejar e a sua caracterização do rei, de tanto querer "cavar" a respetiva personalidade, acabou por tornar-se pouco credível. Mas acrescente-se que a prestação de ambos foi outrossim obscurecida (uma palavra que faz muito sentido nesta encenação...) pela genericamente inconsistente direção de atores.
Enzo Peroni (Macduff) só "apareceu" na sua ária do ato IV (até ali, não mostrara nada) e Marco Alves dos Santos (Malcolm) e Bárbara Barradas (aia de Lady Macbeth) agradaram sem reservas. Tirando o início já referido, boa prestação do Coro.