O que sabe a Europa sobre a América Latina (e vice-versa)?

Quase nada, além de futebol e de um chorrilho de clichés. Adeptos nem desconfiam que um uruguaio é mais do que um latino ou que um belga não é somente um europeu
Publicado a
Atualizado a

O que tem em comum um uruguaio e um francês ou um brasileiro e um belga? Não vale responder que é o futebol só porque estiveram esta tarde no Terreiro do Paço, em Lisboa, a sofrer pelas suas seleções nos quartos-de-final deste Mundial. Um uruguaio tão perto de um francês e um brasileiro mesmo ao lado de um belga é uma oportunidade rara para se ficar apenas pelos clichés. Descobrir o que sabem uns sobre a América-Latina e outros sobre a Europa será bem mais interessante.

"Adoram futebol e são capazes de estar um dia inteiro a dançar samba, merengue ou rumba", responde entre risadas Nicolas Prevost, adepto da cidade de Lille. Antonella Ruiz é um pouco mais específica, traçando de uma assentada o perfil de um francês típico: "Tem um nariz grande como o Obelix, só gosta de falar na sua língua, come e bebe queijos e vinhos que se farta."

É triste, mas na Arena Portugal, o que une a América Latina e a Europa são os lugares-comuns. Além de um punhado de chavões, eles pouco ou nada sabem sobre os outros. "Acho que é normal - admite Diego Díaz -, a globalização e o futebol não aproximam ninguém. Hollywood e televisão é que tornam todos iguais." O "normal", contudo, pode ser "irritante", conclui o adepto de Colónia do Sacramento. Principalmente para quem não gosta de ser apenas um latino-americano.

"Somos mais do que isso, mas pior é quando nos confundem com uma província da Argentina", lamenta ele. E o Uruguai é mais "progressista" do que qualquer país vizinho. Não é à toa que são pioneiros em tanta coisa: "Os primeiros do mundo a ter negros no futebol, dos primeiros na América Latina a legalizar a canábis ou a prostituição", conta ele orgulhoso.

Se um uruguaio se queixa dos argentinos, o que dizer de um belga que se sente engolido pelos franceses? "Quando se lembram de nós, o que vem à cabeça são waffles, BD e Hercule Poirot", conta AbigaelleLaarman. O que não é nada mau, tendo em conta que a maioria os ícones belgas são confundidos com franceses: "Quantos latino-americanos ou mesmo europeus sabem que René Magritte, Marguerite Yourcenar e até Jacques Brel são belgas?"

A pergunta fica para quem quiser responder, mas, para os que porventura não encontram no futebol a forma mais eficaz de juntar culturas, é sempre bom lembrar que a bola continua a ser o melhor desbloqueador de conversas. E quando a conversa flui entre dois estranhos, é bem mais fácil conhecer quem está do outro lado.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt