O que queremos

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Entra hoje em funções uma nova direcção do Diário de Notícias. Para os leitores menos atentos, ou para aqueles que compram este jornal para ler as notícias ou a variedade de artigos de análise ou opinião que encontram nas suas páginas, e que são para qualquer editor de imprensa o leitor ideal, uma mudança nas letras pequeninas no cabeçalho pode passar despercebida ou não ser o que mais chama a atenção. Ou sequer o mais interessante. Não é por acaso que em grandes títulos mundiais da imprensa, com dezenas ou séculos de existência, o leitor dificilmente encontrará os nomes de quem dirige o jornal, chefia as redacções ou confere solidez, coerência e rigor ao que é publicado. O que os leitores procuram num jornal, no seu jornal de todos os dias, é a garantia de uma informação sólida, de uma análise rigorosa e de um jornalismo escrito com paixão e seriedade. Dia após dia, ano após ano, é por isso que o compram todos os dias, sejam quais forem as letras pequeninas na ficha técnica. O jornal que compram é um organismo vivo, não uma marionete ou um teatro de sombras de interesses obscuros.

Na tradição portuguesa, fruto de uma história política atribulada onde a posse e orientação dos principais meios de informação, primeiro os jornais e nas duas últimas décadas também a televisão, quem dirige um jornal torna-se, mesmo involuntariamente, um protagonista. Uma mudança de direcção pressupõe uma mudança de orientação ou uma nova sujeição. E, mesmo que o não seja, é essa a suspeição que sobre ela paira. Falando apenas do DN, nos quase 50 anos de democracia as mudanças políticas e as mudanças nos interesses empresariais, através de fusões e outras confusões, fizeram com que este jornal tivesse 24 directores diferentes, entre efectivos e interinos. Um em cada dois anos e meio. Menos que uma legislatura. Mas suficiente para escrever um manual de como destruir um jornal de referência.

Na entrada em funções de uma nova direcção do Diário de Notícias poderá, assim, ser necessário esclarecer quem somos e o que queremos. Quem somos, é simples. Somos jornalistas. E o que queremos é ainda mais simples: queremos fazer do Diário de Notícias um jornal que se torne leitura obrigatória, tanto na edição impressa como na online, para quem queira ler notícias de jornalistas, ler reportagens de repórteres, ler opinião bem escrita que não seja apenas propaganda acéfala ou repetição de banalidades. Queremos que cada leitor se sinta informado, se sinta esclarecido e sinta, a cada momento, o prazer da leitura.

Dir-se-á que deveria ser esse o objectivo de cada jornal. Será. Mas cada um sabe de si. No caso do Diário de Notícias, depois de desastrosas remodelações e despedimentos que reduziram os efectivos ao osso, isso tem sido conseguido à custa de um esforço insano dos poucos jornalistas que asseguram, dia após dia, que o jornal chega às bancas e a edição online continua atraente para milhares e milhares de leitores.

Como num restaurante 5 estrelas onde é melhor não ir espreitar o que se passa na cozinha, pouco interesse terá para os leitores saber como é que o jornal é feito e se, mantendo a fraca analogia, quem serve à mesa também descasca as batatas e lava a loiça. Mas infelizmente é esse o esforço heróico que há anos tem sido pedido a uma mão-cheia de jornalistas e trabalhadores deste jornal para assegurar que o cheiro da tinta fresca está todos os dias nas bancas. Irão juntar-se-lhes vários jornalistas experientes e com reputação feita de integridade e profissionalismo. Iremos, pouco a pouco, transformar as colunas de opinião, acrescentando outras vozes e outras perspectivas, e procuraremos clarificar o dia-a-dia das notícias com análise e enquadramento. Iremos abrir as portas a novas tendências, novos comportamentos, novas ideias. Queremos, os que entram e os que já cá estão, manter cada vez mais vivo o Diário de Notícias. Queremos fazer um jornal.

Director do Diário de Notícias

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