O que quer o Hamas?
A cada momento recebemos mais notícias sobre a brutalidade do ataque terrorista do Hamas. Matança indiscriminada. Homens, mulheres, crianças e até bebés assassinados a sangue-frio. Pura crueldade, nenhuma humanidade.
Parece obra de algum grupo apocalíptico, como o Daesh, cuja missão é desencadear a guerra final que antecederá os Últimos Dias. O Hamas, porém, não partilha essa visão.
O seu objetivo é criar um Estado palestiniano, o que, em si, seria uma reivindicação justa, não fosse o caso de o pretender fazer através da eliminação do Estado de Israel - ou seja, não admite a solução internacionalmente reconhecida de dois Estados, definida nos Acordos de Oslo, em 1993. Recusa a via pacífica e as negociações, usando a violência e o terrorismo como arma política.
É necessário ter em conta que, ao longo dos anos, o contexto se tornou cada vez mais desfavorável para a causa palestiniana. Primeiro, porque a incessante construção de colonatos nos territórios ocupados foi tornando cada vez mais difícil a implementação dos dois Estados.
Quando, há dois anos, estive em Israel e na Palestina para reunir com o Governo israelita (o anterior, não o atual de Extrema-Direita) e com a Autoridade Palestiniana, constatei a pouca vontade, de uns, e pouca esperança, de outros, quanto a avanços positivos no conflito israelo-palestiniano.
Depois, porque vários países árabes, percebendo que não havia forma de o conflito israelo-palestiniano sair do impasse, começaram a normalizar as relações com Israel.
O Hamas precisava, por isso, de atiçar o conflito. Sem ele, a sua própria existência enquanto organização terrorista deixaria de fazer sentido.
A melhor forma de o fazer? Provocar uma guerra total e obrigar os países árabes a ficar do lado dos palestinianos.
É por isso que os ataques são tão brutais. Quanto mais cruéis, maior a obrigação de Israel responder violentamente. Menor a probabilidade de qualquer solução de compromisso, que claramente não querem.
Não importa quantas vítimas civis haja. Se forem israelitas, o Hamas nem os considera, pois encara os colonos como forças de ocupação e aqueles que vivem perto da Faixa de Gaza são também considerados como tal (apesar de essa região não fazer parte dos territórios ocupados). Não importa que estejam desarmados. Não importa que sejam crianças. Nada importa.
Quanto às vítimas palestinianas, essas serão mártires. O valor da vida humana é instrumentalizado para a sua causa maior. Os fins justificam os meios.
Há ainda um outro objetivo político, que se prende com os reféns. Em 2011, o Hamas conseguiu a libertação de 1027 prisioneiros palestinianos das prisões israelitas, em troca de um único soldado israelita que tinha sido capturado pelo Hamas cinco anos antes. O próprio líder do Hamas conhece bem essa realidade, pois esteve preso 20 anos em Israel até ser libertado numa troca de prisioneiros.
Agora que o número de reféns andará perto de 130 (o número ainda é incerto), o Hamas pretenderá muito mais do que libertar os cerca de cinco mil palestinianos que se encontram em cadeias israelitas, sendo plausível exija contrapartidas territoriais, como o abandono de alguns colonatos e territórios ocupados.
Estando longe de saber quando acabará esta guerra, sabemos que Israel ganhará. Só não sabemos após quantos milhares de vítimas civis. Todas, repito, todas têm o mesmo valor.
Inopinadamente, no discurso do 5 de outubro, prometeu que a CM Lisboa irá comemorar a preceito o 25 de Novembro. Não há outra forma de colocar a questão: Moedas quer que o seu futuro político tenha o apoio dos Ultras da Direita.
Como em tempos Ramalho Eanes explicou, "momentos fraturantes não se comemoram".
Eurodeputado