O que pretende a sociedade dos Bombeiros Voluntários?
Os bombeiros voluntários têm as suas raízes mais profundas em cada uma das comunidades onde surgiram. Foi assim que foram criadas as Associações Humanitárias de Bombeiros, respondendo às próprias necessidades de segurança das comunidades e garantindo, em muitos casos, a autoproteção.
Este movimento organizado com mais de 150 anos permitiu, até hoje, que, de forma voluntária, um conjunto de homens e mulheres pudesse demonstrar vínculos de cidadania e ser um exemplo para outras organizações de caráter social.
Os bombeiros voluntários, a par das misericórdias, são uma emanação natural do "povo" em todos os momentos, independentemente de regimes políticos.
Os bombeiros voluntários, que congregam nos dias de hoje mais de 40 000 voluntários, são suportados por Associações Humanitárias que, no total, reúnem mais de 2 milhões de sócios. Ou seja, indiretamente, mais de um quarto da população portuguesa tem um carinho muito especial pelas suas comunidades - e estas pelos bombeiros - como se pode testemunhar, com frequência, nas cerimónias a que todos assistimos.
Porém, os riscos coletivos que se tornaram cada vez mais frequentes, com consequências por vezes dramáticas para os cidadãos e que se traduzem pela perda de vidas e bens e destruição ambiental, obrigaram a que os bombeiros deixassem de olhar exclusivamente para a sua comunidade e participassem em ações de subsidiariedade com as demais.
A pouco e pouco, com o desenvolvimento da consciência cívica dos cidadãos, assistiu-se à exigência de um socorro mais rápido, mais qualificado, mais organizado. E os bombeiros disseram presente, exigindo nos Anos 80 a criação de um Serviço de Bombeiros que, consequentemente, lhes desse essa componente organizativa.
A par disso, e desde o final da 2.ª Guerra Mundial, os governos têm sido compelidos a organizar serviços de coordenação e de gestão de organizações - que, por si só, são manifestamente insuficientes para responder aos riscos, vulnerabilidades e exigências dos cidadãos, cada vez mais conscientes dos seus direitos constitucionais, e que hoje se designam genericamente por Serviços de Proteção Civil.
Chegados a este ponto, será que os bombeiros viram alteradas as suas missões principais de socorro a doentes e feridos, de extinção de incêndios e socorro a náufragos, porque se mudaram ou modernizaram as nomenclaturas?
Não. Os bombeiros, no essencial, continuam a desempenhar as suas missões originárias e vão continuar a realizá-las, desde que as instituições políticas o queiram e permitam.
Os bombeiros voluntários são um património imaterial da sociedade que não pode ser extinto por manifesta falta de apoio ou de visão estratégica.
Nós, Liga dos Bombeiros Portugueses, que nos assumimos como o garante dos valores, da história e da identidade dos bombeiros, tudo faremos para garantir que este movimento único não acabará por falta de uma visão estratégica ou pela influência negativa que outras organizações pretendam incutir nos cidadãos.
Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.