O que fazer para que confiem em nós?
Quando ouvimos alguém dizer "podes confiar em mim", ficamos satisfeitos e esperançosos, mas isso não significa que, de imediato, surja uma relação de confiança. A confiança é um processo que precisa de algum tempo.
Seja em relações pessoais (de amizade ou amorosas) ou formais (envolvendo diferentes serviços e entidades), a existência de uma relação de confiança é fundamental para que as pessoas consigam comunicar de forma clara aquilo que pensam, sentem e desejam e, depois, construírem algo em conjunto. A confiança é a base de qualquer relacionamento.
Hoje refletimos sobre a confiança necessária para que as vítimas de qualquer forma de violência possam quebrar os muros de silêncio e pedir ajuda. A violência é pautada, como sabemos, pelo medo e pela vergonha, ingredientes que bem misturados com a culpa, originam um contexto de segredo que pode durar anos e anos, assim como sentimentos de desconfiança face ao outro e ao mundo em geral. Neste contexto, quebrar o silêncio e pedir ajuda é um processo difícil que requer, necessariamente, a capacidade em confiar no outro.
Mas não se confia apenas porque sim.
Do que precisam, então, as vítimas, para conseguirem confiar?
Para conseguirem confiar e partilhar as suas vivências mais traumáticas, as vítimas precisam de interlocutores empáticos, autênticos e objetivos, com capacidade de escuta e coerentes em relação àquilo que dizem e fazem. De pessoas e serviços que, sem julgar nem culpabilizar, são capazes de acolher e proteger. As vítimas precisam de sentir-se apoiadas e credibilizadas.
Assim, se desejamos que alguém confie em nós, é muito importante comunicarmos com clareza e precisão, potenciando uma transparência que cria sentimentos de segurança. Ao mesmo tempo, é fundamental atuarmos de forma consistente e previsível, cumprindo os compromissos assumidos e agindo em conformidade com aquilo que é dito. Na prática, fazermos aquilo que dizemos que faremos. Por fim, é importante mostrar genuína preocupação face ao outro e confiar. Isso mesmo, a confiança precisa de ser dada para poder ser retribuída.
A confiança é um caminho que se percorre, por vezes sinuoso e com algumas adversidades que é preciso superar. Requer genuína disponibilidade e também tempo e paciência, pois nenhuma relação de confiança poderá, jamais, ser construída à pressa.
Psicóloga clínica e forense
Terapeuta familiar e de casal