O que fazer com o futuro?

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Deixamos um edifício que temos de honrar, não ficando a olhar para ele, mas procurando fazer jornalismo com a qualidade que tantas vezes se fez dentro deste espaço. Mudar de edifício é a parte mais fácil. Mais difícil, bastante mais difícil, é conseguir ser relevante para leitores que acedem a informação em todo o lado e a todo o tempo.

Nós somos um jornal em papel, queremos continuar a ser um jornal em papel, mas já não somos apenas isso. Estamos a fazer um jornal em papel e no online, dois projetos complementares que têm de ter missões diferentes. No espaço ilimitado do online temos de ser capazes de atrair mais leitores, públicos diferentes que, procurando a informação de referência do DN, também procuram aquilo que, por opção ou falta de espaço, não está no papel.

É preciso resistir, fazer com que o nosso trabalho tenha consequências. Não podemos ouvir vezes sem conta que se investiga pouco, que se explica quase nada, que o país real não se reflete no jornalismo que fazemos e, depois, continuar a fazer tudo na mesma. Não podemos aceitar ser meros entertainers, vulgarizando a informação, seguindo sem reservas a agenda dos partidos e dos sindicatos. Não queremos ser caixa de ressonância dos anúncios de um qualquer governo, ou viver tendo "notícias" apenas porque se é "amigo" de alguém. Não nos pode mover a procura da notícia em primeira mão que não muda nada na vida das pessoas. O que lhe contarmos tem de ter importância e tem de estar bem explicado.

Sabemos que há caminhos mais fáceis para disfarçar as nossas fragilidades, mas preferimos a consistência das opções que fazemos, mesmo quando só o tempo nos pode dar razão. Vamos trabalhar para ter esse tempo. Iniciamos hoje uma mudança que será visível no jornal no dia 1 de janeiro, com opinião que conta, edições de fim de semana reforçadas com reportagens, entrevistas, informação útil para os leitores. O país real tem de ter lugar privilegiado nas páginas do jornal. Ao longo da semana queremos que conte com o DN para o informar sobre o que de mais marcante está a acontecer em Portugal e no mundo.

É quando tudo parece mais difícil que se torna mais gratificante o combate. Este é um negócio que é viável, esta é uma profissão sem a qual não seremos livres nem viveremos em democracia. Estaremos cá, a fazer o debate sobre o caminho a fazer para termos uma sociedade mais justa. Informando de forma livre e responsável.

E, na hora de dizer adeus a esta bela casa, é preciso lembrar que um edifício não faz um jornal, nem o DN nasceu no Marquês. Mas é impossível pensar no DN e não ver a sede na Avenida da Liberdade, no prédio da autoria do arquiteto Pardal Monteiro. Ficam para trás 76 anos de história, tantos como aqueles em que viveu no Bairro Alto, numa rua que se chama agora Rua Diário de Notícias.

Foi o presidente Carmona, com o diretor Augusto Castro e o arquiteto Pardal Monteiro, que cortou a fita, mas na hora de partir as fitas são para amarrar caixotes onde se guardam as memórias físicas. Este é um jornal carregado de história, jamais poderemos superar os seus grandes momentos. Quem teve Eça de Queirós ou José Saramago como jornalistas, Eduardo Coelho ou Augusto de Castro como diretores sabe como a história pode pesar.

Queremos agora olhar para o futuro, imaginar que a marca, já com 152 anos de vida, tem de se rejuvenescer, sabendo que hoje há mais gente a lê-la, porque o DN chega a todo o lado do mundo, o tempo todo em dn.pt. Há 76 anos também havia gente no DN a amarrar fitas para mudar de poiso, porque era preciso sair do Bairro Alto e procurar instalações mais modernas. Foi assim que o DN se instalou no Marquês. Cá estamos nós outra vez, a adaptar-nos aos tempos que vivemos.

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