O que faz felizes dois butaneses em Portugal? Ver o Benfica
"A minha sobrinha de dez anos pediu-me um autógrafo de Cristiano Ronaldo assim que soube que eu vinha a Portugal. Tive de explicar que era difícil", conta a sorrir Tashi Dendup, um butanês de 35 anos, que desde o início do ano está a fazer investigação na Universidade de Évora. Tashi, como pede para ser tratado, vai ficar dois meses em Portugal, um país de que antes só conhecia o futebol, graças a jogadores como Figo e Ronaldo. "Mourinho também é famoso",acrescenta Tandin Wangchuk, de 33 anos, o outro butanês que veio para Évora com bolsa Erasmus Mundus.
Num inglês fluente, contam que foi essa paixão pela modalidade que os levou a querer ver um jogo de futebol mal chegaram. E escolheram o Estádio da Luz porque "o Benfica é muito conhecido por causa da Champions", diz Tashi . E os dois butaneses lá estiveram em Lisboa a 23 de janeiro para ver o Benfica ganhar ao Arouca (3-1). "Foi uma experiência empolgante", sublinha Tandin, que explica que também FC Porto e Sporting são clubes populares entre os butaneses, apesar de as ligas mais seguidas serem a inglesa e a espanhola. "Eu sou fã do Chelsea", afirma Tandin. Tashi torce pelo Manchester United.
Nação dos Himalaias, encravada entre a Índia e a China, o Butão ganhou notoriedade quando o rei criou o Produto Nacional de Bem-estar, que aliando a defesa do ambiente e princípios budistas pretendia lutar contra o tradicional PIB como forma de avaliar a riqueza. E assim, com o apoio de muitos antropólogos, o Butão ganhou a fama de ser o país mais feliz do mundo, apesar de um índice semelhante colocar agora os riquíssimos dinamarqueses no topo da classificação dos povos mais felizes.
"O Butão é um país muito feliz. A natureza é preservada, não há tensões. E a prova é que os butaneses, mesmo quando vão para fora, regressam sempre", explica Tashi, engenheiro eléctrico que estudou na Índia e no Reino Unido. O amigo faz com a cabeça sinal de concordar, ele que se formou em informática no Canadá e na Austrália. Ambos são professores na Faculdade de Ciências e Tecnologias de Phuentsholing, uma cidade no sul desse país de 800 mil habitantes, com metade do tamanho de Portugal e capital em Thimbu.
"Foi em Portugal que aprendemos que dois jesuítas portugueses do século XVII tinham sido os primeiros europeus no Butão", conta Tashi, referindo-se ao alentejano Estevão Cacela e ao beirão João Cabral. Depois de muitos anos fechado, o país abriu-se aos estrangeiros, mas limita o número de turistas para evitar uma invasão de mochileiros que abale a cultura nacional.
Como prova de que os butaneses são mesmo gente feliz, de novo o futebol na conversa. Tashi conta que a seleção até pode ser uma das piores do ranking da FIFA (192.ª), "mas quando ganhou uma eliminatória para o Mundial ao Sri Lanka foi uma verdadeira festa nacional".