O que falta fazer pela saúde das mulheres?

Neste Dia Internacional pela Saúde da Mulher é fundamental alertar para a necessidade de sensibilizar e chamar a atenção da sociedade para os diferentes problemas ligados à saúde e às condições de vida da população feminina.
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Sendo a mortalidade um importante indicador da qualidade da saúde que é oferecida à população, estima-se que, em média, 40% a 50% das causas de morte poderiam ser evitadas com medidas simples, mas eficazes, como a alimentação saudável, o exercício físico e a cessação tabágica. Apesar de a esperança de vida ser mais elevada nas mulheres do que nos homens (83,5 vs 78 anos) quando se faz uma análise das causas de morte, verifica-se que, em relação a cada uma delas, a taxa de mortalidade nas mulheres é superior à dos homens.

As mulheres passam por mudanças significativas durante as diferentes fases hormonais da vida, o que pressupõe que os cuidados de saúde se devam estruturar de forma a darem uma resposta adequada às diferentes patologias encontradas em cada uma dessas fases. Entre as principais, estão a realização dos rastreios do cancro da mama, do colo do útero e do colorretal.

São três dos cinco tipos de cancro que mais afetam as mulheres. O da mama é o mais comum, sobretudo na faixa etária acima dos 50 anos. O colorretal tem a segunda maior taxa de incidência, entre o sexo feminino, e o do colo do útero surge em quinto lugar, depois do cancro do pulmão e da tiróide. Consultar regularmente o médico é fundamental, tanto para prevenir - através do apoio na adoção de hábitos saudáveis e do planeamento personalizado de medidas de vigilância - como para assegurar o diagnóstico precoce destas e de outras doenças potencialmente fatais.

É necessário responder também à patologia benigna, que é tantas vezes incapacitante e com repercussões a nível pessoal, social e profissional, nomeadamente quando se trata de: miomas com hemorragias anómalas, condicionando anemias graves, endometriose com dores intensas, a fibromialgia, a obesidade - e outras que interferem também na saúde mental da mulher, condicionando quadros de depressão e de absentismo laboral.

Dentro da saúde feminina, julgo importante destacar três áreas fundamentais que podem contribuir para a melhoria do bem-estar da mulher: o planeamento familiar, a saúde mental e a prevenção e o combate à violência doméstica.

O planeamento familiar possibilita uma vivência da sexualidade mais saudável e permite planear a gravidez, melhorando as condições que a mulher tem para, em família, cuidar dos filhos, e para realizar outras atividades, sobretudo a nível profissional. Permite ainda reforçar a informação, a prevenção e o despiste das doenças sexualmente transmissíveis.

No que toca à prevenção e combate à violência doméstica, apesar da melhoria das condições de vida e dos avanços relativos ao papel da mulher na sociedade a que assistimos nos últimos anos, a verdade é que as mulheres continuam a estar mais expostas economicamente, com salários mais baixos, menos oportunidades de emprego ou empregos mais precários, o que as fragiliza e torna mais vulneráveis, direta ou indiretamente, a situações de violência doméstica. É um papel fundamental da sociedade continuar a combater este flagelo, que se repercute também na saúde mental da mulher.

Por fim, a identificação precoce dos fatores anteriormente mencionados pode ajudar a prevenir problemas psicológicos, como a ansiedade e a depressão. Estas patologias são cerca de 50% mais comuns nas mulheres do que nos homens. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, a nível mundial, afetam cerca de 13,5% de mulheres, ou seja, cerca de 510 milhões.

Todos temos um papel relevante para transmitir informação e contribuir para alterar alguma da mentalidade que ainda persiste na sociedade, em geral, alertando para a necessidade de resolução de problemas que continuam a provocar desigualdades relacionadas com a saúde da mulher.

Especialista em Ginecologia-Obstetrícia nos Hospitais CUF Tejo e CUF Descobertas | Coordenador da Unidade de Ginecologia Oncológica no Hospital CUF Descobertas

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