O que é que o Barreiro tem? Além do desporto, da bola de manteiga e um "paredão", rejuvenesceu
Passear nas ruas do Barreiro sem ninguém a parar para a cumprimentar é algo raro na vida de Maria João de Figueiredo. E não é para menos. A cidade acolheu a empresária desde os seus 3 anos e todos os principais momentos da sua vida estão relacionados com esta cidade da Margem Sul, onde vive e tem o seu negócio.
Tudo começou quando o seu pai - de quem herdou a veia empreendedora - decidiu abrir o seu segundo restaurante no Barreiro. Depois de "aterrar" na cidade por lá ficou, estudou, casou-se, teve os seus dois filhos, divorciou-se e criou o seu negócio. Pelo meio foi, até hoje, a única mulher a presidir ao Futebol Clube Barreirense, cargo de onde saiu em novembro de 2022. Uma vida inteira na cidade que lhe permite afirmar que a mesma está a atravessar uma fase de rejuvenescimento.
E para compreender esse rejuvenescimento temos de voltar atrás (muito atrás) na história do Barreiro. Esta remonta à época dos Descobrimentos, embora como figura jurídica de cidade a sua existência tenha apenas algumas décadas. Mas, para quem conhece a cidade nas últimas décadas a sua história divide-se em três períodos: quando as fábricas da CUF ainda laboravam ativamente, quando deixaram de funcionar, e o momento presente.
Na opinião da empresária, hoje a autarquia aposta, claramente, não só na sustentabilidade do concelho, como na criação de infraestruturas que permitam quer atrair os jovens para irem viver para a região, quer dar as condições necessárias a quem queira investir e criar negócio.
A Startup Barreiro, onde a nossa viagem guiada por esta figura multifacetada da cidade teve início, é um bom exemplo. Inaugurada há pouco mais de um ano trata-se de um espaço onde não só é possível "alojar" empresas e empresários que estejam a iniciar a sua atividade, com preços acessíveis, como fomenta o networking e a partilha de informação, ao realizar, frequentemente, workshops e webinars. Uma iniciativa que, na opinião de Maria João de Figueiredo, levou para o Barreiro uma alavancagem muito grande para o mundo empresarial.
Para Maria João de Figueiredo, a grande mudança no Barreiro começou quando a CUF ficou inativa. Antes a sua atividade levava a que, muitas vezes, a cidade fosse envolvida por uma "nuvem", um nevoeiro que inclusive, revela a empresária, por vezes criava algumas dificuldades respiratórias. Ou de visão. Maria João de Figueiredo recorda que, naqueles tempos, o nevoeiro por vezes era tão denso que impossibilitava ver a estrada.
Com a desativação da CUF o ambiente ficou mais respirável. No entanto os edifícios ficaram abandonados durante anos e anos. Hoje a situação está a ser alterada, com aquela parte da cidade a receber alguns negócios e a ser reabilitada - as várias gruas existentes são prova disso mesmo. Um crescimento que leva a que a empresária considere que (ainda) é uma boa altura para investir.
O coração do Barreiro está junto ao rio. Seja na frente ribeirinha - reabilitada e que hoje apresenta diversas infraestruturas que permitem o passeio, desporto e a reunião de jovens e graúdos - seja nas várias praias que se podem frequentar. A isto há que acrescentar os vários espaços verdes, espalhados um pouco por toda a cidade e que dão espaço a que as crianças brinquem livremente. Ao ponto de a nossa guia considerar que o Barreiro é uma boa cidade para famílias.
As pessoas novas que se vê na rua - não só em termos de faixa etária, mas, também, por terem vindo de outros locais e decidido estabelecer-se no Barreiro - parece confirmar esta opinião de Maria João de Figueiredo.
O paredão - local de eleição dos "locais" é extenso e permite que as pessoas beneficiem das infraestruturas sem estarem amontoadas umas em cima das outras. Uma sugestão? "Ver o pôr do sol na frente ribeirinha", aconselha a empresária.
A cidade está muito perto de Lisboa e está bem servida de transportes públicos. Mesmo assim a autarquia está a tentar criar as condições para que a criação de negócio no concelho aumente e permita fixar os jovens.
A par disso, lembra, é uma cidade virada para o desporto. O seu histórico de atletas é prova disso mesmo. "O associativismo no Barreiro é muito forte", afirma Maria João de Figueiredo. E não é preciso andar muito para ver atletas a praticar. Basta passear pela frente ribeirinha e conseguimos ver atletas a treinar para ir aos Jogos Olímpicos.
Mas o desporto do Barreiro não é só o desporto náutico. Há também todos os desportos de salão. Basquetebol e futebol são apenas dois deles, com a autarquia a ser um "viveiro" de atletas.
Uma "simples" visita à sala de troféus do clube que já liderou permite verificar todo o seu histórico.
Uma ligação que começou quando inscreveu o filho mais novo no basquetebol. Um contacto que não só nunca mais se perdeu como, pelo contrário, se foi intensificando com o tempo. Ao ponto de uns anos mais tarde ter sido convidada para a Mesa da Assembleia, e, em junho de 2019, para a presidência. Cargo que ocupou até novembro de 2022.
Ainda no centro da cidade o mercado é outro ponto emblemático que não só reúne os produtores como é o local onde se fazem as habituais compras, com os cafés à volta. Sim, porque o mercado fica junto a uma praça, o que possibilita o encontro e reunião de amigos. Sem esquecer o parque de estacionamento que serve não só quem pretende ir ao mercado ou ao centro da cidade, mas, também, quem pretende visitar os escritórios do Futebol Clube Barreirense.
Questionada sobre um prato ou doce típico do Barreiro a resposta foi imediata: a bola de manteiga. Um doce que é exclusivo (pelo menos essa é a experiência de Maria João de Figueiredo, que sempre que falou do mesmo a outras pessoas ninguém o conhecia) do Barreiro. É certo que várias pastelarias apresentam essa iguaria, mas, para a empresária, só um local dignifica o nome: a Pastelaria Moderna. Um espaço antigo, modesto, fundado a 31 de outubro de 1970, mas que, na opinião de Maria João de Figueiredo, apresenta as melhores bolas de manteiga.
Uma "bela" frente ribeirinha
Quem gosta de praia não precisa de andar muito. Ao longo da frente ribeirinha há diversas praias que as pessoas podem utilizar. É certo que algumas têm a sinalização de "desaconselhado ir a banhos", mas a verdade é que a qualidade da água tem vindo a aumentar. Fruto do trabalho e consciência das pessoas, mas, também, das inovações verificadas nos cacilheiros que servem a cidade e fazem a ligação a Lisboa. No entanto há algo que Maria João de Figueiredo - que ainda tem tempo para liderar um programa de dicas de finanças e negócios, na Rádio Marginal - lamenta que nunca se tenha feito: uma ponte que ligasse o Barreiro ao Seixal.
Mas este desejo talvez venha a fazer parte de uma quarta evolução no Barreiro...
dnot@dn.pt