O que Daniel Blaufuks descobriu em clausura com os monges
Blaufuks impôs o seu caderno de encargos quando a diretora da Fundação Eugénio Almeida, Filipa Oliveira, o convidou para trabalhar o arquivo da instituição e inaugurar o projeto Re-Inventar a Memória. "Não quero ser o artista dos arquivos", respondeu. A história é contada pela própria, curadora da exposição Prece Geral, que está no Fórum, no centro de Évora. Sim, o trabalho surgiu. Mas a marca arquivística está lá.
Não foi preciso mergulhar em caixas poeirentas. Daniel Blaufuks documentou o quotidiano no Convento da Cartuxa, um dos que fazem parte do património da fundação e de Évora. Na verdade, foi um retorno. Há 20 anos, na companhia do conservador do Museu Nacional de Arte Antiga, Anísio Franco, bateu à porta de vários conventos do país e registou-os para a posteridade. A Cartuxa, ou Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, onde se vive em clausura, foi um deles.
Esse trabalho nunca chegou a ver a luz. Até agora. Há três imagens, a preto e branco, dessa altura. Retratam o padre Antão, o único monge dos sete que vivem na Cartuxa que contacta com o mundo. Há 20 anos eram catorze, e ele já era o único que contactava com o mundo. "Está tão vazio que já há celas emparedadas", refere Daniel Blaufuks. Há 20 anos, o artista foi à missa gregoriana. Hoje, a igreja está fechada.