O projeto da Expo 2030 em Roma para redesenhar o futuro dos espaços e do planeta
A recente pandemia de COVID-19 recordou-nos dramaticamente a importância de voltar a colocar as pessoas e o território no centro de qualquer projeto de desenvolvimento futuro, e provocou mudanças rápidas e de grande alcance na forma como nos relacionamos com o meio ambiente. Repensar os espaços em que as pessoas vivem, aprendem e criam, redefinindo-os à escala humana, descerra novos horizontes e abre o caminho para identificar soluções para os grandes desafios globais que afetam todo o planeta e todos os seus habitantes em termos ambientais, económicos e sociais.
Assim, e tendo em conta os debates em curso durante a COP 27 -- que decorre até dia 18 de novembro, juntando os principais líderes mundiais num encontro onde se pretende alcançar um acordo para travar as alterações do clima -- é crucial imaginar novas formas de conceber o futuro das áreas urbanas. A começar por Roma, que, ao candidatar-se a acolher a Exposição Universal (EXPO) em 2030, propõe-se como um laboratório ao ar livre e um centro do qual podem surgir novos e diferentes cenários para as próximas gerações e para o planeta.
É suficiente um passeio no coração de Roma para perceber que a Cidade Eterna é o lugar ideal para partir do passado e criar um futuro policêntrico e interligado, que redefina a relação entre homem e cidade, mas também entre centro e periferia, declinando-a de acordo com as especificidades de cada território em termos geográficos, económicos, culturais e sociais. As diferentes épocas da história de Roma têm-se sobreposto no tempo sem se apagarem, enriquecendo-se numa progressiva estratificação, preciosa e fascinante, da qual podem surgir, com a contribuição de todos, ideias inovadoras para um amanhã melhor. Há quase três mil anos, a capital italiana oferece um exemplo de continuidade, resiliência, capacidade de adaptação à mudança e de reinvenção do seu presente.
Desde o início da sua história, Roma concebeu soluções de vanguarda para as necessidades das comunidades que a habitaram. Basta pensar na sua rede de aquedutos, ou na rede de estradas consulares que a ligava a todas as províncias da península e do Império, da qual deriva o ditado ainda hoje em uso: "Todas as estradas levam a Roma". Graças também à sua localização geográfica no coração do Mediterrâneo, Roma sempre atraiu ideias e talentos de fora das suas fronteiras. A sua extraordinária coleção de arte e cultura não teria sido possível sem a contribuição de outras culturas. O resultado é uma mistura única de história, natureza e pessoas que hoje faz de Roma uma capital moderna, destino de milhões de visitantes e onde as pessoas convivem sob os valores da liberdade e da aceitação mútua como o faziam há dois milénios.
Projetada no futuro, mas rica no seu passado milenar, com o objetivo de olhar para o futuro para oferecer uma nova visão inspirada nos valores da paz, justiça e sustentabilidade, a capital italiana apresentou a sua candidatura a acolher a EXPO precisamente em 2030, o ano-chave para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Portanto, em conformidade com as recomendações da ONU, tal como definidas na Agenda 2030, Roma concebeu uma EXPO social, inclusiva e universal pensada para todos, ponto de partida para uma visão inovadora do desenvolvimento sustentável dos nossos territórios. Através das possíveis concretizações do tema "Pessoas e Territórios: Regeneração Urbana, Inclusão e Inovação", a EXPO Roma 2030 pretende criar a oportunidade ideal para construir parcerias e partilhar culturas, tradições, ideias, competências, ferramentas e recursos, de modo a centrar a ação conjunta num horizonte comum e num futuro melhor.
A declinação do projeto -- em plena continuidade com a Expo de Dubai "Conectar Mentes, Criar o Futuro" e a de Osaka "Desenhar a Sociedade do Futuro, Imaginar as nossas Vidas" -- permitirá abordar temas de grande atualidade para todos, tais como a evolução e a regeneração dos territórios ameaçados pelas alterações climáticas e dos seus efeitos devassadores; a diversidade e inclusividade das nossas comunidades; a sustentabilidade das agregações urbanas e a economia circular; a descentralização e a mobilidade a nível local, nacional e internacional; a conectividade digital como motor do crescimento económico e social. O plano proposto pela candidatura pretende estimular o debate, apontar um caminho partilhado e identificar soluções comuns, oferecendo aos países participantes um caminho operacional de colaboração, que terá na EXPO o ponto de chegada e verá, nos anos que nos separam do evento, o desenvolvimento e arranque de projetos e iniciativas conjuntas centradas nas diferentes experiências e necessidades das diversas realidades.
Com vista a oferecer concretamente um exemplo de reformulação funcional e sustentável dos espaços urbanos em benefício das pessoas, através de um novo paradigma tangível da relação entre pessoas e territórios, o local escolhido para acolher a EXPO 2030 situa-se numa área nos arredores de Roma, ligada a algumas das zonas históricas da cidade e adjacente a um dos seus campus universitários, que funcionará como traço de união com a vasta comunidade científica da capital, valorizando a contribuição que a inovação e as tecnologias -- incluindo as digitais -- podem dar para imaginar novas possíveis soluções para os desafios globais. A estrutura -- cujo plano foi desenhado pelo Arquiteto Carlo Ratti -- tem a ambição de estabelecer novos padrões de sustentabilidade, com zero emissões de CO2, reutilização de materiais, respeito pelo ciclo de vida de água, ar e energia, criando a primeira Net Carbon Zero Community italiana, não só autossuficiente, como também capaz de criar e fornecer energia limpa a outros territórios. A sustentabilidade ambiental é de facto uma das principais características de Roma, que é a metrópole com mais espaços verdes na Europa. Os seus parques urbanos, as vilas históricas e reservas naturais permitem-lhe criar uma integração antiga e única entre os cidadãos e a natureza, que pode ser um exemplo para o futuro. Não é por acaso que Roma é também o maior município agrícola da Europa: dentro do seu perímetro decorre uma intensa atividade de cultivo, frequentemente inovadora, que pode contribuir para o atual debate sobre o importante tema da segurança alimentar e para a identificação de novos modos de produção agrícola sustentáveis em benefício dos territórios e das pessoas. Roma poderá, portanto, fornecer também inspiração para a redefinição da relação entre cidade e periferia, numa nova realidade fluida, integrada e complementar em que as áreas urbanas dialogam com o resto do território, num todo equilibrado e harmonioso. As relações de Roma com o resto do território nacional e com o mundo -- graças à sua localização no centro do Mediterrâneo, no cruzamento de três continentes -- refletem-se num sistema de ligações único. A partir do seu aeroporto é possível chegar em menos de duas horas às principais capitais europeias, dos Balcãs, do Norte de África e do Médio Oriente, e em três horas a todos os destinos da inteira região euro-mediterrânica, de Ancara a Beirute e ao Cairo.
Não admira, portanto, que Roma seja também a capital mundial da diplomacia, acolhendo embaixadas de 139 nações diferentes, para além das acreditadas junto da Santa Sé e de São Marino. A cidade alberga também mais de 130 representações junto do Pólo Alimentar da ONU (FAO-IFAD-PAM) e outras acreditadas junto da Ordem de Malta. No total, existem em Roma cerca de 430 embaixadas e quase 3.000 diplomatas, sem contar com os institutos culturais.
A diversidade que tem caracterizado Roma desde os seus primórdios faz dela um lugar de extraordinário fermento social, sede de numerosas associações culturais e ONGs, que operam nos mais variados âmbitos desde a solidariedade à assistência, desde a educação à promoção da alfabetização tecnológica, desde o setor agroalimentar à promoção da proteção ambiental, oferecendo mais estímulos e perspetivas.
Neste momento histórico de rápidas mudanças, é mais importante do que nunca enfrentarmos juntos, a todos os níveis de ação, a urgência dos desafios colocados para um desenvolvimento mais justo e para garantir segurança e prosperidade a todos os povos, criando cenários partilhados. Como escreveu o Presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, na sua carta ao Bureau International des Expositions (BIE), "O objetivo é criar uma exposição que ambicione um futuro policêntrico e verdadeiramente inclusivo, oferecendo a cada ser humano as mesmas oportunidades, tanto em termos de infraestruturas e serviços, como em termos de desenvolvimento cultural e social".
Embaixador de Itália em Portugal