O professor tranquilo que queria ver os filhos jogar à bola na rua
Na Escola Básica de 2.º e 3.º Ciclos e Ensino Secundário de Ribeiro Sanches, o professor de educação física andava ocupado com os preparativos para o desconfinamento que se esperava na altura da nossa conversa, por isso combinámos o encontro no Jardim da República, mesmo em frente à Camara Municipal de Penamacor. Passam seis anos desde que Nuno Silva, na altura professor no Porto, rumou com a mulher Susana e o filho José Miguel até o concelho da Beira Baixa que faz fronteira com Espanha.
Conhecemos um homem determinado que já tinha tido uma experiência de viver aqui em 2008. Se para a companheira foi natural voltar à terra que a viu nascer, para o homem que nasceu em Lamego e desde muito novo jogou à bola nas ruas do centro do Porto este era um pensamento distante. A ideia de se fixarem no interior, ainda passou por Viseu e Castelo Branco mas a busca por viver num sítio onde o seu filho também pudesse experimentar a liberdade de chutar uma bola em plena rua, fê-los optar pela pacatez da pequena vila, que de acordo com o último censo tem pouco mais de mil e quinhentos habitantes.
Estamos numa zona com o mais alto índice envelhecimento do país, nota-se na pele de cada habitante, dado o desinvestimento em serviços como a educação e a saúde. O trabalho dos professores também tem especial importância no combate ao abandono escolar e à iliteracia, mas a tendência de envelhecimento da população e uma taxa de analfabetismo superior a 20 pontos percentuais não favorecem este combate.
Estabelece-se assim, um círculo vicioso entre a falta de valências que consideramos essenciais (levando ao desencorajamento de muitos de tomar a opção de rumar ao interior) e a falta de investimento do estado central face à crescente ausência de pessoas. Numa tentativa de perceber as tendências demográficas no território nacional, os técnicos da extinta Unidade de Missão para a Valorização do interior, fizeram as contas às dinâmicas demográficas e declararam estarmos numa zona de muito forte despovoamento.
Estamos numa sociedade pequena e unida por todos os que se conhecem, com as vantagens e inconvenientes que isso traz. Mas também de uma população marcada e unida por um forte sentimento de estar esquecida pelo poder central. Talvez por estarmos num lugar onde as pessoas, "se habituaram a não precisar de nada, a sobreviver com muito pouco" encaram com muita convicção a sua missão de ensinar: "Para mim os alunos são como meus filhos, se existe um com um problema eu quero saber qual é para o poder ajudar. É importante uma atividade física regular porque esta é capaz de trazer mais paz e fazer um planeta melhor", sublinha.
O sentido de segurança e proteção na comunidade é claramente uma mais valia, mas também a comunhão com a natureza, os cheiros e cores das estações que são aqui de uma vivacidade extrema. Como diz Nuno Silva, que desde que aqui chegou aumentou a familia com mais duas crianças - o Manuel de três anos e o João de apenas 10 meses -, "se alguém conseguir vender num frasco a qualidade de vida que Penamacor tem, vai ficar milionário".
Estão reunidos os ingredientes para projetar uma vida em família feliz e tranquila, por isso a ideia de sair daqui não lhe agrada, mas confessa que tudo dependerá das políticas, pois se o país continuar a desativar serviços e esquecer esta população será difícil permanecer.
Penamacor
Vila do distrito de Castelo Branco, situada na subregião da Beira Baixa, com cerca de 1500 habitantes segundo os últimos censos. É sede do município de Penamacor com 563,71 km² de área e 5682 habitantes, subdividido em nove freguesias.
#UmOutroPaís
Projeto coproduzido com a Escola Superior de Comunicação/IPL