O primeiro telefone com câmara de 200 megapíxeis custa menos do que se poderia pensar
A marca chinesa XIaomi assume a promessa de criar produtos eletrónicos que encerram uma boa dose de tecnologia mantendo os preços bem competitivos. O mais recente lançamento, esta quarta-feira, é a nova linha de smartphones topo de gama 12T Series que se podem vangloriar de ser os primeiros telefones a chegar ao mercado com uma câmara principal cujo sensor tem nada menos do que 200 megapíxeis.
Trata-se do mais avançado chip que a Samsung produz para este tipo de aparelhos, mas que nem a marca sul-coreana (ainda) instala nos seus telefones.
A Xiaomi acopla o sensor a um sistema de três objetivas com estabilização ótica -- uma primária de oito elementos, uma grande angular e uma macro --, que prometem captar imagens de altíssima qualidade. Pelo que nos foi dado a observar na demonstração em primeira mão a que o DN assistiu, o 12T de facto não desilude, em especial na versão Pro (mas faremos uma avaliação detalhada em breve).
Apesar de o sensor ótico não ser o único fator a ter em conta na conceção de uma câmara de telemóvel, continua a ser determinante. Afinal, quanto maior a quantidade de luz captada, maior o detalhe (e, consequentemente, a qualidade de imagem). Desde que o sistema de lentes o permitam, claro. Neste aspeto, a Xiaomi montou na câmara principal do T12 uma objetiva de oito peças que, promete, é capaz de rivalizar com a concorrência.
A câmara principal do T12 Pro fica, como referido, com uma resolução nativa de 200 megapíxeis (MP). Já o irmão mais "pequeno", a T12 base, vem equipado com um sensor de 108 MP - equivalente ao modelo de topo do Samsung, o Galaxy S22 Ultra, por exemplo. Em ambos os Xiaomi, a câmara ultra-grande-angular tem 8MP e a macro 2MP.
É em situações de baixa luminosidade que a grande capacidade do chip de 200MP demonstra a sua mais-valia. Isto porque o software é capaz de gerir, automaticamente, os sensores de luz do semicondutor, utilizando conjuntos do mesmo como se fossem um único píxel - captando assim mais luz para um único ponto da imagem e o resultado final geral é uma foto mais nítida mesmo em ambientes escuros.
Também nas capacidades do zoom digital a quantidade de informação captada pela câmara do novo T12 Pro foi evidente na demonstração a que tivemos acesso. É tanto o detalhe captado que é possível "ir buscar" pormenores "ao fundo" das fotos, que nem nos apercebíamos que lá estavam.
A Xiaomi diz que é precisamente por causa dessa grande capacidade de captação de pormenores que dispensou a colocação de um sistema de zoom ótico no telefone. Além de que lhe permite manter o aparelho mais fino (8,6mm de espessura). E, claro, dizemos nós, reduzir no custo.
Regressando à comparação com o referido Samsung S22: se a câmara principal é, à partida, muito equivalente, a nova proposta chinesa perde tanto na ultra-grande-angular (a oferta sul-coreana inclui um chip de 10MP), como no facto de o Galaxy S22 Ultra incluir ainda duas teleobjetivas: uma equivalente a 70mm com zoom ótico de 3x; e outra equivalente a 230 mm com zoom ótico de 10x. Neste momento, no mercado, nenhuma outra marca oferece esta opção.
Mas a tecnologia paga-se. O Galaxy S22 Ultra (256GB de armazenamento, 12 GB de RAM) custa, preço tabela, 1300 euros. O Xiaomi T22 Pro, que é o modelo comparável, é lançado por 850 euros.
O modelo Pro é ainda o que traz, a nível de software, capacidades de inteligência artificial que lhe permitem definir diretamente no ecrã, enquanto está a gravar vídeo (até 8K) ou a tirar fotos, o que quer manter focado -- sempre a mesma pessoa ou objeto --, mesmo que tal saia de plano momentaneamente durante a sessão. Isto é possível através de um sistema de reconhecimento automático da imagem in built no processador, um Qualcomm Snapdragon 8+ Gen1.
Também existe um novo software que sugere vários enquadramentos possíveis para uma mesma foto -- tirando assim partido dos referidos maiores detalhes captados pelo sensor ótico.
As diferenças do Pro para o base começam, obviamente, no preço: 650 euros por um telefone de 8GB de RAM (e os mesmos 256GB de armazenamento). A câmara principal, como referido, é diferente, (os 108MP contra os 200MP), mas de resto, o ecrã de AMOLED de 120Hz (de refresh variável) e 6,67 polegadas são idênticos. Até a bateria de 5000mAh (com carregamento ultrarrápido HyperCharge de 120W, cujo carregador é incluído) são iguais.
No áudio incorporado a diferença é que no Pro as minúsculas colunas foram "afinadas" pela Harmon Kardon, asseguram-nos...
De resto, de fundamental só varia mesmo... o processador. O modelo base traz um MediaTek Dimensity 8100-Ultra, que, apesar de ser um chip potente, é sem dúvida inferior ao que de melhor a Qualcomm oferece. E mais barato, claro.
Além de que suporta menos funções. Daí não ser possível, como referido, fazer aquilo que a Xiaomi chama ProFocus, a captura em movimento, sempre focado em tempo real, do objeto da fotografia ou vídeo. Só por isso valeria a diferença de preço.
Se incluirmos o facto de, até dia 12 de outubro, na compra de um modelo Pro a marca estar a oferecer um tablet Redmi Pad com 128GB de RAM (que se vende sozinho por 330 euros) ainda menos razões haverá para se ficar pelo modelo base. A não ser que queira muito o novo smartwatch Redmi Watch 2 Lite, que é a oferta para quem compre o T12. Este também foi lançado agora, promete 12 dias de autonomia de bateria, tem GPS incluído, custará 70 euros.
Seja com estas ofertas de lançamento ou sem elas, com a linha T12 a marca chinesa apresenta-se à entrada deste último trimestre do ano com um produto bem competitivo a todos os níveis, desde logo a começar pelo preço. E pelo que pudemos observar, sem quaisquer evidentes compromissos na qualidade de construção. É mesmo muita tecnologia num agradável retângulo em preto, prateado ou azul.
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ENTREVISTA
O diretor da Xiaomi para Portugal, Tiago Flores explica por que a marca ocupa hoje o segundo lugar nas preferências dos portugueses entre os smartphones. E revela que este segmento quase já nem é o seu principal negócio...
Há um ano, em conversa com o DN, referiu o objetivo de ter um Xiaomi por família em Portugal. Já lá chegou?
Temos evoluído muito de forma muito progressiva no mercado português, continuamos a crescer não só no negócio mobile, mas também no nosso ecossistema. Essa evolução traduz a nossa visão de trazer mais tecnologia, mais acessível a todos, Independentemente do campo onde o consumidor se situa. Se é no smartphone, nós temos alargado muitíssimo a nossa gama de aparelhos: trazemos sempre maior tecnologia nos flagships, sem desistir da gama de entrada. Continuamos a alargá-la, inclusive este mês vamos lançar um smartphone de entrada de gama, que é o Redmi A1, que vai compor um segmento que já quase não existe, um modelo próximo dos 100 euros [nota do redator, já disponível na loja online por 120 euros].
Continuamos a alargar o espetro de smartphones, mas estamos a trazer mais categorias para o ecossistema, com mais rapidez. Isso concretiza-se numa linha de tablets -- que passa a ter duas referências --, em mais equipamentos para casa, como por exemplo agora vamos lançar os novos aspiradores, e na semana passada lançámos equipamentos conectados para alimentar animais de estimação... Continuamos também a alargar a parte dos wearables.
Com isto têm crescido no mercado nacional...
A [consultora] IDC dá-nos uma destacada segunda posição no mercado [nota do redator: atrás da Samsung], com 30% de quota em Portugal, e a Multidados, uma empresa de estudos de preferência do consumidor, dá-nos como a segunda marca mais preferida dos consumidores portugueses. Acreditamos que estamos a fazer as coisas bem, por não nos focarmos apenas numa categoria, mas trazermos de facto aquela promessa que é conectar Portugal. E conectar os consumidores independentemente dos seus interesses. Assistirmos a esses nossos fãs a irem cada vez mais às nossas lojas, não só às da marca, mas também dos nossos tradicionais parceiros de retalho e operadores. Tanto que, hoje, quase metade da nossa faturação já não vem dos smartphones, já é quase 50-50.
E têm planos para abrir mais lojas?
Vamos cirurgicamente abrir mais três ou quatro lojas nos próximos tempos. Vamos abrir na Madeira ainda este ano: já estamos nos Açores, faltávamos a Madeira. E, em conjunto com os nossos parceiros, graças à confiança no nosso ecossistema, sim, estamos a acelerar a digitalização de Portugal.
Mas a crise inflacionária que vivemos e a possibilidade de recessão que se adivinha não o assusta?
De facto há uma grande pressão sobre toda a cadeia de produção das marcas, não só com o custo das matérias-primas, mas também com os transportes, tudo o que é internacionalmente conhecido. Mas temos tido a capacidade de nos mantermos fiéis ao nosso propósito, que é trazer a melhor tecnologia com preço justo. Temos conseguido otimizar constantemente a cadeia de valor da nossa rede de abastecimento e, com isso, conseguimos trazer mais equipamento para mais segmentos -- e o Redmi A1 é um exemplo, um smartphone nos 100 euros.
É um telefone para a crise?
Não. É um telefone que já não existia e que volta a existir e acaba por complementar a nossa oferta. Mas vamos sempre manter-nos fiéis à nossa promessa de valor, em todo o ecossistema, que é democratizar a tecnologia e trazer cada vez mais coisas para os consumidores portugueses.