O primeiro governador que não experimentou a política

Carlos Costa foi convidado pelo seu amigo e colega de faculdade Teixeira dos Santos.  Escolha gerou consenso
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Carlos Costa, o homem que dia 1 de Junho vai assumir o cargo de governador do Banco de Portugal, é discreto e reservado , possuindo um longo percurso profissional ligado à banca.

A sua discrição, um atributo valorizado para a função que vai desempenhar, advém não só do seu perfil pessoal como também do facto de ter exercido as suas funções bancárias quase sempre fora dos conselho de administração.

A única excepção foi a sua passagem pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), onde foi administrador entre 2004 e 2006, antes de rumar para o Luxemburgo, para a vice-presidência do Banco Europeu de Investimento (BEI), que agora deixa para ser governador.

Colega de faculdade e amigo de juventude de Teixeira dos Santos, Carlos Costa, cuja nomeação foi ontem aprovada em Conselho de Ministros, é mais um licenciado da Faculdade de Economia do Porto que ascende a supervisor, depois de Carlos Tavares ter assumido a presidência da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O sucessor de Vítor Constâncio tem 60 anos e é natural de Cesar, próximo de Oliveira de Azeméis. Depois de concluir o curso de Economia, fez investigação e pós-graduação na Sorbonne, em Paris.

Carlos Costa fez parte dos primeiros eurocratas portugueses que chegaram a Bruxelas, à então CEE, depois da adesão de Portugal, em 1986. Começou por dirigir os assuntos económicos e financeiros na Representação Permanente (Reper) de Portugal. Em 1993, passou para a Comissão Europeia, onde se manteve até final de 1999, como chefe de gabinete do comissário João de Deus Pinheiro.

Terminado o seu percurso europeu, o governador agora indigitado assume funções no Banco Comercial Português (BCP), onde foi director para a área internacional.

Foi este mesmo pelouro que assumiu quando chegou a administrador da CGD, tendo inclusive presidido ao então Banco Simeon, uma instituição de crédito espanhola adquirida pela Caixa, mais tarde integrada no actual Banco Caixa Geral.

Não se lhe conhece a cor partidária, mas tem sido tido como próximo da área do PSD. É, pois, um nome respeitado por todos os quadrantes políticos, como se pode comprovar pelas várias reacções ontem registadas, provenientes de várias áreas políticas. Manuela Ferreira Leite aprovou, assim como Miguel Macedo, falando em nome do PSD, adiantando não ter objecções à sua nomeação. O PS, obviamente, aplaude.

O consenso em torno da sua escolha, no que respeita aos dois maiores partidos políticos, foi uma das garantias dadas por Teixeira dos Santos, quando se dirigiu o convite, na tarde de quarta-feira. No entanto, o nome de Carlos Costa há muito que constava da short list de potenciais escolhas, pelo menos avançadas pela comunicação social.

O novo governador deixa o BEI, depois de a sua vice-presidência ter contribuído para um reforço dos financiamentos desta instituição. Portugal transformou--se no sexto país em volume de financiamentos, com o BEI a associar-se aos grandes projectos de investimento portugueses.

Carlos Costa tem ainda outra faceta, a de académico. Exerceu a docência, no âmbito da pós-graduação em Estudos Europeus da Católica do Porto, e ainda hoje mantém vínculo à universidade como professor catedrático convidado da Universidade de Aveiro.

O novo governador 'falha' apenas na carreira política. Será o primeiro a chegar ao cargo sem ter percorrido os corredores do poder, pelo menos quando comparado com os seus antecessores da Rua do Comércio, no pós-25 de Abril. Desvantagem, ou talvez não. Resta saber se Constâncio lhe vai deixar por resolver os dossiers quentes da supervisão bancária (BCP, entre eles), que irão testar a sua vertente 'política'.

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