O Presidente 'high-tech'

Primeiro acto foi enviar 'e-mail' aos apoiantes.
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Imediatamente antes de sair para o evento em Chicago, onde fez o seu discurso de vitória, Barack Obama abriu o seu computador para escrever.


"Vou agora para o Grant Park falar com todos os que estão lá reunidos, mas queria escrever-te primeiro. Acabámos de fazer história. E eu não quero que te esqueças como o fizemos. Temos ainda de fazer muito para voltar a por o nosso país nos eixos. Vou voltar a contactar-te sobre o que se segue."


Foi um dos primeiros actos do novo Presidente dos Estados Unidos da América. Minutos depois, todos os que se tinham registado na página de Obama na internet receberam esta mensagem no seu email. A campanha estima que tivessem sido cerca de 3,1 milhões.


E todos eles mereciam uma palavra especial de agradecimento. Foram os que mantiveram a chama da campanha sempre acesa, com as suas pequenas doações feitas através da internet, cinco dólares, dez, várias vezes, nunca atingindo o limite individual dos 2300 dólares, mas chegando, nesse grão a grão, a uns 650 milhões de dólares que permitiram a Obama arrasar o adversário com anúncios televisivos - nomeadamente um, de 30 minutos, que ficará na história.


A mensagem de Obama foi enviada em tom de quem sussurra ao ouvido. Pouco habitual para quem acaba de ser eleito para um dos cargos mais importantes do mundo. Mas nada estranha vinda de um político que fez a campanha toda de baixo para cima. Em inglês chama-se a isto grassroots. Nas raízes. Obama criou uma rede real de voluntários - com escritórios de campanha onde nunca os tinha havido, nomeadamente nos bastiões republicanos, o que muito contribuiu para a vitória nalguns desses estados como a Carolina do Norte ou a Virgínia.


E apoiou também uma comunidade na internet, com várias páginas, por estados, com o mesmo design mas geridas através de vários voluntários e organizações diferentes. Isto além das comunidades através do Facebook ou dos vídeos no You Tube.


Como explica Chris O'Biren do San Francisco Mercury News: "Uma das coisas mais extraordinárias foi o controle que ele deu aos seus apoiantes. Não havia censura de nomes ou tópicos. Eles podiam até desenhar o seu material de campanha e modificar o famoso 'O' da campanha." A página de Obama tornou-se um lugar de peregrinação diária para quem queria seguir a sua campanha - estiveram anunciados mais de 150 mil eventos em vários estados. Além de blogues onde milhares de apoiantes contavam experiências, criando uma sensação de partilha.


Em 2004, Joe Trippi, então responsável pela candidatura internética de Howard Dean às primárias do partido democrata escreveu um artigo premonitório na revista Wired, chamado "O Poder às Pessoas". "Em 2008 um qualquer software inovador da internet vai acelerar, permitir, e alterar todas as campanhas - as finanças, o trabalho de campo, as comunicações e a resposta rápida. E dois milhões enviarão para a campanha apenas 100 dólares e isso dará 200 milhões permitindo ao candidato fazer o que quiser."


Trippi pecou por defeito, mas concretizou o seu sonho quando, depois de apoiar Edwards, se juntou a Obama para controlar a sua comunidade digital. "Ele será um dos mais poderosos presidentes da história americana", vaticinou agora.


O poder de Obama , segundo Trippi, está na base de apoio construída. Ele conhece os seus mais animados voluntários, os seus gostos, as questões que os preocupam. E como poderá usá-los, quando precisar? Fazendo pressão contra grupos de resistência na Câmara dos Representantes ou Senado, por exemplo. Imaginemos uma lei que tem oposição de um senador do Indiana.

Todos os senadores têm uma ligação muito grande às suas comunidades e Obama pode mobilizar os seus apoiantes nessa comunidade para o convencerem. Ou então, fazendo contra-informação, com e-mails e mensagens explicando leis menos fáceis.


E como a internet é um caminho de dois sentidos, Obama poderá ir tomando o pulso ao povo, com os comentários que também receberá. Mais ou menos o que acontecia com Ronald Reagan, o último grande presidente carismático e o que mais cartas recebia. Mas agora com a rapidez adaptada ao século XXI.

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