O poeta de uma outra globalização

É autor de extensa obra nas áreas da Sociologia e do Direito. Professor nos EUA e Reino Unido, afirma-se socialista e tem teorizado sobre os conceitos da alterglobalização.
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Defende a renegociação de, pelo menos, parte da dívida portuguesa; é um crítico demolidor dos processos da globalização; activo participante nas iniciativas do Fórum Social Mundial, sustenta a necessidade de novas emancipações sociais e de "democratizar a democracia". Professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e professor nas Universidades de Wisconsin, nos Esta- dos Unidos, e de War- wick, na Grã-Bretanha, Boaventura de Sousa Santos cultiva também a poesia.

Uma poesia que, a acreditar nos excertos revelados por Maria Filomena Mónica numa crónica de 2004, é assaz aterradora, composta de versos "simultaneamente pretensiosos e indigentes", escreve a historiadora e socióloga. Felizmente que não é pelos seus textos poéticos (a que se poupa o leitor), nem por algumas incursões na ficção, que Boaventura de Sousa Santos desfruta hoje de ampla reputação internacional. O coordenador científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa tem-se destacado pelo seu envolvimento no Fórum Social Mundial (FSM), que se assume como rede "de trocas transnacionais entre os movimentos sociais, ONG e as suas práticas e conhecimentos das lutas sociais globais", como o descreve o próprio no ensaio O Fórum Social Mundial e a Esquerda Global.

O FSM, segundo o académico nascido em Coimbra a 15 de Novembro de 1940, pretende "afirmar a existência da globalização contra-hegemónica. E isto não é uma qualquer vaga utopia. É de facto a utopia que integra em si a concretização mais adequada para a actual fase de construção da globalização contra-hegemónica", a alterglobalização.

É em torno da argumentação crítica desta corrente que Sousa Santos, um dos sócios fundadores da iniciativa cívica conimbricense Pro Urbe nos anos 90, tem elaborado a sua obra mais recente. Desta podem salientar-se Globalização: Fatalidade ou Utopia?, A Gramática do Tempo: para Uma Nova Cultura Política, Para Uma Revolução Democrática da Justiça e Epistemo- logias do Sul, entre outros.

Doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale, Sousa Santos afirma-se como militante de esquerda e socialista. Colaborador regular no Esquerda.net, numa recente intervenção em Porto Alegre definia o socialismo, "se é que se pode ter uma definição de socialismo é: a democracia ao infinito". Uma fórmula que levou o professor brasileiro César Bento a notar que, apesar de ser "ele um dos grandes intelectuais da actualidade", aquela "parece mais uma frase poética do que a definição de uma formação social e económica superior ao capitalismo".

As posições políticas de Sousa Santos e o tom "moral" a que por vezes recorre este Distinguished Legal Scholar - título atribuído a autores de significativa obra de investigação - da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin têm motivado algumas críticas. Em particular, o facto de, em paralelo com o discurso "alternativo" e da realização de estudos para os Governos de Angola, Cabo Verde e Moçambique, ter sido consultor de Hugo Chávez e Evo Morales.

Recentemente, a propósito de críticas de Sousa Santos a Fernando Nobre como candidato do PSD, escrevia Pedro Froufe no blogue Blasfémias: "Boaventura acha que Nobre 'sucumbiu à vertigem do poder' (...). É, no mínimo curiosa a acusação de 'vertigem do poder', vinda de quem é próximo (e apoia) os 'desprendidos' (do poder) Chávez e Morales..." Mas os intelectuais são, por natureza, polémicos. E nisso o autor de O Estado e a Sociedade em Portugal (1974-1988) não escapa à regra.

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