O poder matriarcal em Angola
Sabe qual é o maior partido em Angola?", perguntaram-me quando aterrei pela primeira vez em Luanda, em 2011. A resposta que dei foi a óbvia: "O MPLA." E do outro lado, ouvi: "Não! O maior partido em Angola é a OMA." O comentário, proferido por um angolano, foi feito meio a sério, meio a brincar! Na parte séria, que é a que nos interessa, o gestor com quem conversava referia-se ao enorme peso que tem a OMA - Organização da Mulher Angolana no país e ao forte pendor matriarcal daquela sociedade. E mais me disse: "Quando for jantar a casa de famílias angolanas cumprimente sempre em primeiro lugar a mais velha [ou seja, a avó] e a mãe e só depois a restante família." A OMA tem cerca de 22 mil membros só no Facebook. É uma organização do MPLA - o partido do poder, liderado por José Eduardo dos Santos e cujo candidato às eleições presidenciais de dia 23 é João Lourenço - e trabalha para a mobilização, sensibilização e educação das mulheres, desde a luta pela libertação nacional. É a maior organização social daquele país africano, com mais de dois milhões e quinhentos mil membros, distribuídos por 49 mil secções dentro e fora do país. Todos os membros da OMA representam 51% do total de militantes do partido e dá voz a mulheres de todas as classe sociais, profissões e idades. Pela experiência que tive em Angola, desde 2011 até 2016, vi in loco como a OMA é, sobretudo, o rosto de mulheres resilientes - as ricas e as pobres, as trabalhadoras e as empreendedoras - que acreditam num país melhor para os seus filhos. Mulheres que carregam o trabalho à cabeça, que transportam os filhos às costas debaixo do sol ou da nuvem de cacimbo por horas a fio e que calcorreiam quilómetros sem fim por estradas de terra cor de laranja que aparecem do nada e de onde surgem milhares de silhuetas femininas, enroladas nos seus panos, indo e vindo para o trabalho no campo ou na cidade. Uma terra laranja que nos contagia e nos transmite uma energia de futuro. Mas para agarrar esse futuro é preciso que também os homens e mulheres da política carreguem, à cabeça ou nas costas, a responsabilidade e a ética que elevará o país a uma condição de maior desenvolvimento social.