O economista francês, Thomas Piketty, lidera um grupo de europeus progressistas que propõem "salvar a Europa dela própria". O seu plano é apresentado num manifesto, que será publicado esta segunda-feira em vários jornais europeus..O The Guardian publicou um artigo de opinião que traça os termos gerais do texto no seu site.O plano passa por quatro novas taxas, que financiarão um orçamento europeu, e a criação de uma assembleia europeia, que junta deputados nacionais e eurodeputados..Mencionando o Brexit ou a eleição de governos antieuropeus dentro da União Europeia, Piketty e os restantes autores escrevem que "não podemos simplesmente esperar pelas próximas partidas ou mais desmantelamentos sem fazer mudanças fundamentais na Europa atual". Segundo eles, é a "falta de ambição social que está a levar a sentimentos de abandono"..Pikkety, autor do famoso livro O Capital no Século XXI e professor na Escola de Economia de Paris, lança um apelo para "uma transformação profunda das instituições e políticas europeias", com propostas concretas ao nível de um "tratado de democratização e de um projeto de orçamento".."Se a Europa quer restaurar a solidariedade com os seus cidadãos, só pode fazê-lo providenciando provas concretas de que é capaz de estabelecer a cooperação e ao fazer com os que ganharam com a globalização contribuam para o financiamento do setor público. Isso significa obrigar as grandes empresas a contribuir mais do que as pequenas e médias empresas e os contribuintes mais ricos pagar mais do que os mais pobres", lê-se no texto publicado no The Guardian..A nível orçamental, o economista propõe quatro grandes taxas: uma sobre os lucros das grandes empresas, outra taxa de 15% sobre os grandes rendimentos (acima dos 200 mil euros por ano), uma terceira sobre as maiores fortunas (com mais de um milhão de euros) e a última sobre as emissões de carbono (com um preço mínimo de 30 toneladas por tonelada). A ideia seria garantir um orçamento europeu anual de 800 mil milhões de euros. ."Se for fixado em 4% do PIB europeu [quatro vezes superior ao atual], como propomos, este orçamento poderá financiar investigação, inovação e as universidades europeias, um ambicioso programa de investimento para transformar o nosso modelo de crescimento económico, o financiamento da receção e integração de migrantes, e o apoio de quem está envolvido em empreender esta transformação. Poderia também dar alguma margem de manobra orçamental aos Estados membros para reduzir a tributação regressiva que pesa sobre os salários ou consumo", diz o texto..Piketty rejeita a ideia que em causa esteja a criação de um sistema de transferência de pagamentos pela Europa, indicando que "o projeto limita a diferença entre despesa deduzida e rendimentos pagos por país até ao limite de 0,1% do seu PIB". Algo que só com consenso poderia ser aumentado. A ideia, reitera, é "reduzir a desigualdade dentro dos países, não entre eles, e investir no futuro de todos os europeus"..Assembleia Europeia.O economista defende "uma nova e soberana assembleia europeia", uma "instituição capaz de lidar com as crises na Europa de forma imediata" e que permita verdadeiramente cumprir com a promessa do Tratado de Roma da "harmonização das condições de vida e trabalho"..A nova assembleia tem como objetivo tirar a Europa "do seu atual impasse tecnocrático", permitindo também gerir as novas taxas e o tal orçamento para a democratização. "Esta assembleia europeia pode ser criada sem mudar os atuais tratados europeus.".Esta assembleia, formada por 80% de membros dos parlamentos nacionais e 20% dos membros do Parlamento Europeu, teria que estar em contacto com as atuais instituições como o Eurogrupo, mas em caso de desacordo, teria a palavra final, explica Piketty. "De outra forma, a sua capacidade de ser um local para um novo espaço político transnacional, onde partidos, movimentos sociais e organizações não-governamentais poderiam finalmente expressar-se, ficaria comprometido"..A ideia de pôr membros dos parlamentos nacionais nesta assembleia europeia iria garantir que as eleições nacionais são transformadas em eleições europeias e que os deputados eleitos não podem mais culpar Bruxelas..Piketty convida os europeus a "comentar e melhorar as propostas", que os autores dizem que "não são perfeitas, mas têm o mérito de existir"..O manifesto será publicado no The Guardian (Reino Unido), no Le Monde (França), na Der Spiegel (Alemanha), no La Vanguardia (Espanha), no Gazeta Wyborcza (Polónia), no La Repubblica (Itália) e Politiken (Dinamarca).