Já foi ponto de defesa e vigia sobre as margens do rio Guadiana em tempos de conflitos internacionais, mas o passar do tempo foi cruel para a fortaleza de Juromenha (Alandroal), condenando-a ao abandono e à ruína. Hoje há sinais de esperança. O Alqueva voltou a garantir água em abundância no rio, viabilizando um rol de atividades náuticas, abrindo a porta ao turismo, e em breve será entregue a obra de consolidação e restauro deste património medieval. Os investidores já começaram a chegar, mas faz falta uma ponte..Luís Grave é de Elvas e foi dos mais recentes empresários a instalar-se por aqui, atraído pela projeção turística que se antecipa, assumindo-se Juromenha como uma das aldeias ribeirinhas do Alqueva. Construiu três moradias de alojamento turístico em frente à porta da fortaleza, embora uma das Casas de São Lázaro funcione agora com "tasca", em regime de comida típica alentejana para fora enquanto o estado de emergência perdura.."Juromenha tem tido cada vez mais procura. Isto é muito bonito e as pessoas encontram aqui uma calma incrível", diz, revelando que no último verão, apesar da pandemia, teve as casas sempre esgotadas. "Tenho a noção de que depois de se recuperar a fortaleza e dos investimentos que estão previstos, isto vai aumentar e ser uma referência na região", sublinha, enquanto Janete Pete, a dona do restaurante Pata Larga, encara o futuro de Juromenha como "um segundo Monsaraz", quando a requalificação estiver concluída..É natural do Redondo, mas decidiu investir aqui há seis anos, tirando partido do peixe do rio. Recorda como quando se instalou "não havia nada atrativo em Juromenha", assumindo-se como o único restaurante da terra. "Mas começámos a ter muitos clientes e os espanhóis descobriram-nos. Depois abriram mais dois restaurantes e há espaço para todos. Ao início foi um risco, mas hoje acreditamos que há aqui futuro", vaticina Janete..O presidente da Câmara do Alandroal, João Grilo, projeta Juromenha como "a nova joia do Alentejo", depois de ter terminado 2020 com a garantia de que a fortaleza vai ser requalificada à boleia de um investimento de cinco milhões de euros, numa intervenção que terá a complementaridade do concurso Revive. O concurso público decorre até final do mês..As primeiras referências a Juromenha datam do século IX, com a fortaleza a ser despovoada em 1920, depois de ter sido palco de inúmeros acontecimentos históricos. É constituída por duas cinturas de muralhas, uma interna, onde se situa a torre de menagem, e outra externa do tipo abaluartado, com planta estrelada..DestaquedestaqueEste projeto precisa da construção de uma ponte de ligação a Olivença e da navegabilidade do rio Guadiana desde Badajoz até ao paredão do Alqueva..No espaço interior da fortaleza foram edificadas as igrejas da Misericórdia e a matriz, a par dos antigos paços do concelho, uma cadeia e uma cisterna que abastecia a população. Há anos que tudo isto está em ruínas.."Recuperar a fortaleza é só o primeiro passo para uma série de mecanismos que agora vão desenvolver-se. Sei que já há investidores interessados. O desafio é negociar e gerir o que é público e privado no interior da fortaleza", diz o autarca - com mestrado em Supervisão Pedagógica em Biologia e Geologia -, dando prioridade a projetos de "baixa densidade", que assegurem sustentabilidade pelos anos fora. O próprio município tem em carteira a construção de um centro náutico no sopé da escarpa, que contempla uma piscina biológica natural. Chegou a ser equacionada a construção de uma praia fluvial, mas a qualidade da água do rio Guadiana nesta zona não o permite. "A piscina natural é uma solução muito interessante e pouco explorada", diz João Grilo, que aponta ainda à inclusão de valências dedicadas aos desportos náuticos, restaurante e parque de merendas..Também a reabilitação urbana da aldeia, onde hoje residem cerca de 80 pessoas, surge na agenda do município, que ambiciona responder à escassez de habitação que nos últimos tempos se instalou na freguesia, precisamente porque a procura de casa para segunda habitação aumentou e os preços dispararam.."Vamos avançar com um loteamento de iniciativa municipal, sobre o qual estamos a trabalhar, num terreno que o município já tem muito bem situado", revela João Grilo, admitindo que este passo vai alargar a oportunidade a quem quer comprar casa..Mas para dar expressão ao potencial da "nova Juromenha", João Grilo tem dois desígnios que pretende concretizar: a construção de uma ponte habilitada a fazer a ligação rodoviária a Vila Real (Olivença), para pessoas e mercadorias, e colocar na agenda a questão da navegabilidade do rio Guadiana desde a zona de Badajoz até ao paredão do Alqueva.."Sem uma ponte o mundo acaba aqui. Se temos a expectativa de ter visitantes e investidores, temos de contar com os espanhóis e, apesar de só termos cem metros de água a separar as margens, encontramos esta barreira física à aproximação. É inaceitável", reclama, alertando para as fortes ligações culturais e até familiares entre ambas as populações. Neste momento, para chegar a Olivença, a população tem de dar a volta por Elvas, ao encontro da Ponte da Ajuda, percorrendo mais de 30 quilómetros..E como concretizar a travessia? O autarca aponta aos fundos de investimento do Plano de Recuperação e Resiliência, recordando que contempla a revitalização da linha de fronteira com investimentos estruturantes que beneficiem ambos os países. "Os territórios de fronteira são zonas de grande atividade económica, mas no caso de Portugal e Espanha faltam essas acessibilidades para essas dinâmicas", lamenta..Quanto à navegabilidade do rio, defende que sejam encontradas condições de regularização de caudal a jusante de Juromenha. "Seria uma enorme oportunidade para exploração turística, económica e cultural, se o rio fosse navegável a partir de Badajoz. Os espanhóis querem muito esta solução e estamos a falar de milhares de turistas", resume João Grilo.
Já foi ponto de defesa e vigia sobre as margens do rio Guadiana em tempos de conflitos internacionais, mas o passar do tempo foi cruel para a fortaleza de Juromenha (Alandroal), condenando-a ao abandono e à ruína. Hoje há sinais de esperança. O Alqueva voltou a garantir água em abundância no rio, viabilizando um rol de atividades náuticas, abrindo a porta ao turismo, e em breve será entregue a obra de consolidação e restauro deste património medieval. Os investidores já começaram a chegar, mas faz falta uma ponte..Luís Grave é de Elvas e foi dos mais recentes empresários a instalar-se por aqui, atraído pela projeção turística que se antecipa, assumindo-se Juromenha como uma das aldeias ribeirinhas do Alqueva. Construiu três moradias de alojamento turístico em frente à porta da fortaleza, embora uma das Casas de São Lázaro funcione agora com "tasca", em regime de comida típica alentejana para fora enquanto o estado de emergência perdura.."Juromenha tem tido cada vez mais procura. Isto é muito bonito e as pessoas encontram aqui uma calma incrível", diz, revelando que no último verão, apesar da pandemia, teve as casas sempre esgotadas. "Tenho a noção de que depois de se recuperar a fortaleza e dos investimentos que estão previstos, isto vai aumentar e ser uma referência na região", sublinha, enquanto Janete Pete, a dona do restaurante Pata Larga, encara o futuro de Juromenha como "um segundo Monsaraz", quando a requalificação estiver concluída..É natural do Redondo, mas decidiu investir aqui há seis anos, tirando partido do peixe do rio. Recorda como quando se instalou "não havia nada atrativo em Juromenha", assumindo-se como o único restaurante da terra. "Mas começámos a ter muitos clientes e os espanhóis descobriram-nos. Depois abriram mais dois restaurantes e há espaço para todos. Ao início foi um risco, mas hoje acreditamos que há aqui futuro", vaticina Janete..O presidente da Câmara do Alandroal, João Grilo, projeta Juromenha como "a nova joia do Alentejo", depois de ter terminado 2020 com a garantia de que a fortaleza vai ser requalificada à boleia de um investimento de cinco milhões de euros, numa intervenção que terá a complementaridade do concurso Revive. O concurso público decorre até final do mês..As primeiras referências a Juromenha datam do século IX, com a fortaleza a ser despovoada em 1920, depois de ter sido palco de inúmeros acontecimentos históricos. É constituída por duas cinturas de muralhas, uma interna, onde se situa a torre de menagem, e outra externa do tipo abaluartado, com planta estrelada..DestaquedestaqueEste projeto precisa da construção de uma ponte de ligação a Olivença e da navegabilidade do rio Guadiana desde Badajoz até ao paredão do Alqueva..No espaço interior da fortaleza foram edificadas as igrejas da Misericórdia e a matriz, a par dos antigos paços do concelho, uma cadeia e uma cisterna que abastecia a população. Há anos que tudo isto está em ruínas.."Recuperar a fortaleza é só o primeiro passo para uma série de mecanismos que agora vão desenvolver-se. Sei que já há investidores interessados. O desafio é negociar e gerir o que é público e privado no interior da fortaleza", diz o autarca - com mestrado em Supervisão Pedagógica em Biologia e Geologia -, dando prioridade a projetos de "baixa densidade", que assegurem sustentabilidade pelos anos fora. O próprio município tem em carteira a construção de um centro náutico no sopé da escarpa, que contempla uma piscina biológica natural. Chegou a ser equacionada a construção de uma praia fluvial, mas a qualidade da água do rio Guadiana nesta zona não o permite. "A piscina natural é uma solução muito interessante e pouco explorada", diz João Grilo, que aponta ainda à inclusão de valências dedicadas aos desportos náuticos, restaurante e parque de merendas..Também a reabilitação urbana da aldeia, onde hoje residem cerca de 80 pessoas, surge na agenda do município, que ambiciona responder à escassez de habitação que nos últimos tempos se instalou na freguesia, precisamente porque a procura de casa para segunda habitação aumentou e os preços dispararam.."Vamos avançar com um loteamento de iniciativa municipal, sobre o qual estamos a trabalhar, num terreno que o município já tem muito bem situado", revela João Grilo, admitindo que este passo vai alargar a oportunidade a quem quer comprar casa..Mas para dar expressão ao potencial da "nova Juromenha", João Grilo tem dois desígnios que pretende concretizar: a construção de uma ponte habilitada a fazer a ligação rodoviária a Vila Real (Olivença), para pessoas e mercadorias, e colocar na agenda a questão da navegabilidade do rio Guadiana desde a zona de Badajoz até ao paredão do Alqueva.."Sem uma ponte o mundo acaba aqui. Se temos a expectativa de ter visitantes e investidores, temos de contar com os espanhóis e, apesar de só termos cem metros de água a separar as margens, encontramos esta barreira física à aproximação. É inaceitável", reclama, alertando para as fortes ligações culturais e até familiares entre ambas as populações. Neste momento, para chegar a Olivença, a população tem de dar a volta por Elvas, ao encontro da Ponte da Ajuda, percorrendo mais de 30 quilómetros..E como concretizar a travessia? O autarca aponta aos fundos de investimento do Plano de Recuperação e Resiliência, recordando que contempla a revitalização da linha de fronteira com investimentos estruturantes que beneficiem ambos os países. "Os territórios de fronteira são zonas de grande atividade económica, mas no caso de Portugal e Espanha faltam essas acessibilidades para essas dinâmicas", lamenta..Quanto à navegabilidade do rio, defende que sejam encontradas condições de regularização de caudal a jusante de Juromenha. "Seria uma enorme oportunidade para exploração turística, económica e cultural, se o rio fosse navegável a partir de Badajoz. Os espanhóis querem muito esta solução e estamos a falar de milhares de turistas", resume João Grilo.