O pequeno grande herói
A fórmula que os estúdios Disney descobriram para fazer arrancar a primeira animação digital de longa metragem - a primeira, en-tenda-se, assinada exclusivamente por técnicos da casa - é pequena tem a dimensão reduzida de um franguinho com problemas de afirmação pessoal e familiar, determinado a encontrar uma oportunidade de mostrar o seu valor.
Mas Chicken Little não é um galo que se possa medir aos palmos tem todo o estofo dos grandes he-róis, a coragem de um guerreiro samurai, a determinação de um ca-çador. Essa a razão por que a Disney o lança de cabeça, já hoje, nas salas de cinema do País. Os olhos estão postos em Chicken Little para resgatar a honra da animação.
O filme "é um passo que a Disney dá em frente por ser diferente de tudo o que tínhamos concebido até à data", afirma o presidente da Walt Disney Feature Animation, David Stainton, nas notas de produção do filme, referindo o modo inovador com que se combinou a técnica e a sensibilidade características da Disney para conseguir criar um produto "único, sem limites", resultante de múltiplas valências individuais reunidas numa mesma forma de fazer cinema digital. O veredicto?
"Estamos muito orgulhosos daquilo que o Mark [Dindal, o realizador], o Randy [Fullmer, produtor] e a sua equipa conseguiram com este Chicken Little", aprova David Stainton. Sobretudo porque o filme encerra também em si os ensinamentos de um dos últimos artistas da "velha escola" da Disney, Joe Grant, a quem os novos prestam homenagem da maneira mais original e moderna possível (com esta aventura de aves), sem romperem com a sua filosofia criativa. "Ele próprio fez questão de desenhar e criar novas histórias até morrer, a 6 de Maio deste ano", justifica o responsável, que via em Grant o espírito mais jovem do grupo (apesar dos seus 96 anos), alguém que influenciou as reuniões de composição do enredo. "Disse-nos ele que o legado de Walt Disney não foi a tecnologia, mas a arte de contar grandes histórias com grandes personagens."
E Chicken Little soube agarrar o segredo. A pequenez da tal fórmula utilizada é aparente serve apenas para enformar um enredo megalómano com direito a extraterrestres, naves espaciais e toneladas de bagunça - numa espécie de interpretação muito própria e em versão animada da Guerra dos Mundos, de Spielberg - e dar corpo ao minúsculo herói de penas que, ao longo do filme, vai despindo a capa de timidez e aprendendo a soltar o galo de combate que há em si.
Tudo começa, de resto, quando o franguinho anuncia aos gritos que o céu vai cair sobre a pacata Oakey Oaks, instalando rapidamente o pânico na cidade. A partir daí, passa a ser visto pelos habitantes como um pinto histérico e mentiroso, alvo perfeito da chacota geral enquanto não descobre a oportunidade de se redimir. E eis que o momento perfeito chega quando o céu acaba, de facto, por quebrar e cair, arrastando consigo uma invasão de alienígenas desejosos de conquistar a Terra. Chicken Little vence o medo, luta com determinação para salvar a cidade, supera-se. E conquista definitivamente a estima de Oakey Oaks... e do pai, Buck Cacareja, o seu modelo desde sempre.
os inseparáveis. Inspirado em Chicken Licken, um conto que Jon Scieszka e Lane Smith escreveram para o livro The Stinky Cheese Man and Other Fairly Stupid Tales, o Chicken Little da Disney vive sobretudo do carisma único das "estrelas" principais. Abby Patada (a Patinha Feia) é a melhor amiga e eterna apaixonada do herói. Sensa-ta e leitora compulsiva de revistas de patos, é ela que ajuda Chicken Little a vingar. Do inseparável grupo fazem ainda parte Runt (o Vira-Caixote), um enorme porco adorável com queda para a música, e o Peixe Fora d'Água, inocente e aventureiro. A Disney não podia ter entregue em melhores mãos o desafio de conquistar bilheteiras.