O pendente de Karoline Cohn foi desenterrado e é igual ao de Anne Frank

Investigadores desenterraram pendente num campo de concentração e tiveram uma surpresa: o único que se conhece, idêntico, pertencia a Anne Frank
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Era judia, chamava-se Karoline Cohn, nasceu em Frankfurt em 1929 e, em 1941, foi deportada para o gueto de Minsk. Sobre o que lhe aconteceu depois, pouco se sabe. Mas o colar dela, com um pendente triangular, foi levado em 1943 para o campo de concentração nazi de Sobibor, na Polónia, então ocupada pelos alemães. Se chegou lá no pescoço de Karoline ou não, desconhece-se.

Em outubro de 2016, o pendente pendurado neste colar foi desenterrado no local daquele campo de concentração por investigadores israelitas e polacos. Do que sabem agora, há apenas um pendente idêntico àquele que encontraram em Sobibor. Pertencia a Anne Frank, a jovem judia que relatou em diário a perseguição dos nazis e morreu em 1945, num campo de concentração alemão.

A peça de Karoline Cohn foi encontrada juntamente com outras peças de joalharia das vítimas do Holocausto, revela o jornal israelita Haaretz, pela equipa que tem feito pesquisa arqueológica no local: Yoram Haimi, da Autoridade para as Antiguidades de Israel, o polaco Wojciech Mazurek e o holandês Ivar Schute. Durante as escavações, foram encontrados os vestígios da cabana onde o cabelo das mulheres era cortado antes de serem enviadas para as câmaras de gás, há mais de 70 anos. Foi aí que caiu o pendente de Karoline Cohn, que de um dos lados tinha gravadas as palavras "mazel tov" (boa sorte) em hebreu, com a data de 3 de julho de 1929 e o nome da cidade de Frankfurt - serão a data e local de nascimento dela. No outro lado, a letra 'he', do alfabeto hebraico, e três estrelas de David.

(Vídeo em hebraico)

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Depois de uma investigação complexa, liderada pelo diretor de pesquisa do instituto do Projeto de Deportação de Judeus, o nome de Karoline foi encontrado na lista de judeus enviados de Frankfurt para o gueto de Minsk em novembro de 1941. A data de nascimento e a cidade coincidiam com as que estavam inscritas no pendente. Os avanços na pesquisa permitiram perceber, entretanto, que existe um outro pendente idêntico, único conhecido com as mesmas características: pertence a Anne Frank, que também nasceu em Frankfurt.

Depois desta descoberta, os investigadores colocaram-se em campo para tentar contactar as famílias de ambas as jovens que morreram em campos de concentração: Karoline na Polónia, em Sobibor, Anne Frank na Alemanha, em Bergen-Belsen. Querem saber se havia alguma relação entre as duas ou entre as próprias famílias.

"O pendente que encontrámos demonstra mais uma vez a importância da pesquisa arqueológica em campos de concentração", disse ao Haaretz Yoram Haimi, da equipa a trabalhar no local. A investigação no campo de Sobibor começou em 2007, com o objetivo de localizar os edifícios, nomeadamente as câmaras de gás construídas pelos nazis. Mas as escavações permitiram encontrar igualmente vestígios da estação de comboios e um grande número de objetos pessoais das vítimas do Holocausto.

Mais de 250 mil judeus foram mortos em Sobibor, criado pelos alemães no leste da Polónia. O campo foi destruído em 1943, depois de um levantamento dos prisioneiros. Ao contrário de outros campos de extermínio, disfarçados de campos de trabalhos forçados onde os judeus eram sujeitos a intensos esforços físicos, em Sobibor aplicava-se a "solução final": quem chegasse era morto quase imediatamente.

Nesta altura, e perante a falta de informações sobre a origem do pendente igual ao de Anne Frank, as autoridades israelitas emitiram mesmo um pedido de ajuda público para localizar os parentes vivos de Karoline Cohn ou alguém que conheça Sophie Kolman, que em 1978 preencheu a página de testemunho em nome da jovem alemã que consta no memorial oficial das vítimas do Holocausto em Jerusalém.

Artigo alterado às 12.30 de 20 de janeiro. Esclarecido que os campos de concentração na Polónia foram criados pela Alemanha Nazi, que então ocupava o país

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