O patriarca que esteve atento aos sinais dos tempos
Transportado para o hospital do SAMS, em Lisboa, onde o seu médico assistente é diretor clínico, o cardeal patriarca emérito acabou por morrer pouco antes das 20.00, aos 78 anos - tinha deixado o Patriarcado há menos de um ano.
Filho de "uma família cristã muito piedosa", como o próprio contava, o velho Policarpo ria-se das tropelias do jovem José, quando já estava no seminário, de Almada, depois de ter passado pelo de Santarém. "Fui encarregado do laboratório", contou em outubro de 2011 ao jornal da diocese, Voz da Verdade. "Tinha uma chave e podia ir para lá quando quisesse. Uma vez ia lá ficando. Pus-me a fazer uma experiência por minha conta e risco, com uma bobine de Ruhmkorff, e apanhei um choque enorme" - e riu, com a sua voz grave, que não enganava o fumador que era.
O gosto pela experiência manteve-o no seu percurso académico, mas também na sua ação pastoral, como padre, bispo auxiliar de Lisboa e por fim patriarca. Ordenado padre em 1961, licenciou-se em Teologia Dogmática, na cidade de Roma, pela Pontifícia Universidade Gregoriana em 1968 - os ecos do Concílio Vaticano II repicavam ainda na Igreja Católica e a convulsão do maio desse ano atravessava fronteiras. " Teologia das religiões não cristãs" foi o tema da tese que defendeu. Doutorou-se ainda na mesma universidade com outra tese que usava um termo conciliar: "Sinais dos Tempos. Génese histórica e interpretação teológica".