O papa da publicidade em França que devia ter sido farmacêutico

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Jacques Séguéla. Dos hipermercados às marcas de automóveis, passando pelas campanhas políticas, este homem formado em Farmácia dominou o mundo da publicidade em França nas últimas três décadas. Apesar de se definir como "de esquerda", não esconde a amizade e admiração por Nicolas Sarkozy

O papa da publicidade em França que devia ter sido farmacêutico

Os documentos oficiais registam o seu nascimento a23 de Fevereiro de 1934, mas Jacques Séguéla garante que só começou a viver em 1958. Foi nesse ano que este filho de médicos decidiu organizar uma volta ao mundo em 2CV. O sucesso do seu diário de viagem, La terre en Rond (À Volta da Terra, numa tradução aproximada), marcou o momento em que Séguéla deixou para trás a carreira de farmacêutico, que não chegara a começar, e o noivado com a cantora Dany para se dedicar ao mundo da comunicação.

Redactor no Paris-Match e mais tarde chefe de redacção no jornal militar durante a Guerra da Argélia, regressou a Paris para fundar o seu próprio órgão de comunicação. A publicidade só chegaria à sua vida mais tarde. Mas viria para ficar. Ao peso das palavras junta então a força das imagens e torna-se no papa da publicidade francesa. E não tem pruridos em usar o seu génio criativo em várias áreas, dos hipermercados Carrefour às malas Louis Vuitton, passando pelas campanhas políticas. Em 1981 fez o pleno: François Mitterrand, Jacques Chirac e Valéry Giscard D'Éstaing recorrem aos seus serviços.

Mas será o seu slogan "A Força Tranquila" que levará o socialista Mitterrand à presidência, depois de dois falhanços. Um sucesso para Séguéla, que se tornaria uma espécie de conselheiro pessoal. São dele as teorias - nem sempre bem aceites nos meios políticos - segundo as quais "vota-se numa ideia, não numa ideologia; vota-se no homem e não no partido; vota-se para o futuro e não para o passado.

"François Mitterrand coroou-me rei da publicidade. Deu-me o reconhecimento de que precisava. Nunca poderei fazer uma campanha de direita. Teria a sensação de o estar a trair", confidenciava Séguéla em 2002 à imprensa francesa. Campanha talvez não, mas a sua proximidade com Nicolas Sarkozy é inegável. O homem de esquerda rendeu-se à energia do líder da UMP. E não hesita mesmo em contar na sua Autobiografia não Autorizada (um título tão contraditório como o seu autor) como apresentou o então já Presidente à futura primeira dama, Carla Bruni, num jantar em Novembro de 2007 (ver caixa). E não esconde a admiração pelo político. Em 2008 garantia à rádio RMC: "Desde que Sarkozy chegou ao poder, a França está melhor."

Educado entre a igreja, que frequentava com o pai, e o templo, onde ia com a mãe, este filho de um casal de médicos de origem catalã nunca perdeu o sotaque do sul. Autor de inúmeros livros - um dos mais conhecidos é Não digam à minha mãe que trabalho em publicidade, ela acha que sou pianista num bordel -, Séguéla gosta de lembrar que "Se perder tudo, volto a engraxar sapatos. Eu até gosto!", explicou há uns anos ao Nouvel Economiste, recordando como ganhou a vida durante a sua volta ao mundo em 2CV. Desprendido e desbocado, o publicitário garante não guardar qualquer memória dos acontecimentos negativos ou desagradáveis que marcaram a sua vida. E uma das fases mais complicadas em termos profissionais foram os anos 1990. Nessa altura, o publicitário chegou a temer a falência, quando a sua agência de publicidade atravessou uma fase de grande instabilidade financeira.

Esses tempos ficaram para trás. E, aos 75 anos, Séguéla não parece disposto a parar, mesmo se admite abrandar o ritmo para se dedicar à família. Casado há quase três décadas com Sophie, 24 anos mais nova do que ele e gerente dos institutos de beleza Bleu comme Bleu, tem cinco filhos. E quando lhe perguntam o que pensa fazer no futuro, gosta de brincar: "Quero ser apenas o marido da cabeleireira."|

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