O palácio flutuante com torneiras de ouro que sobreviveu a Saddam
Foi fabricado em 1981 e era descrito como um palácio flutuante. O dono era Saddam Hussein, o homem que governou o Iraque durante décadas, e não poupava nos gastos. O super Iate é descrito como luxuoso, mesmo nos mínimos detalhes, próprio de reis. Hoje está ancorado no porto iraquiano de Basra e serve para trabalho de investigação cientifica e para descanso de marinheiros.
A suíte presidencial, a sucessão de salões e salas, onde brilham ouro, prata e mármore, foram projetadas e montadas meticulosamente. O super iate Al Nasim (Brisa) mantém o gosto barroco de quem já foi seu dono, o ditador iraquiano Saddam Hussein. "Quando entrei no barco fiquei fascinado pela delicadeza e requinte dos seus acabamentos. Tudo é construído de forma muito profissional, como se tivesse sido montado agora e não nos anos 80", contou ao jornal espanhol El Mundo Anmar al Safi, porta-voz do porto de Basra, cidade no sul do Iraque, onde esta embarcação de 87 metros de comprimento permanece atracada.
O palácio flutuante foi fabricado em 1981 por estaleiros dinamarqueses, que o descreveram como "luxuoso, mesmo nos mínimos detalhes e de estilo muito árabe". Uma atmosfera que ainda emana do seu interior, com a decoração arabesca, acabamentos de madeira escura, fontes ornamentais e tapetes tecidos nas cidades sagradas do Islão. Nos banheiros espalhados pelo iate, a água emana de torneiras de ouro e os visitantes podem desfrutar do jacuzzi e banhos de vapor. Há televisões de tela plana e salas de jogos, com mesas de pingue-pongue e bilhar.
"É um iate extremamente luxuoso, típico dos reis", aponta Abbas Karim, diretor do departamento de reparos navais do porto de Basra. O seu interior, na verdade, não deve nada aos barcos que os monarcas do Golfo Pérsico também foram adquirindo. "A primeira coisa que você pensa quando a visita é a fortuna que foi usada para construir. É composto de 18 quartos, além de uma sala de festas, um restaurante com talheres para 200 pessoas, um escritório oficial para Saddam e até um salão de cabeleireiro", explica Al Safi. Também há um heliporto e uma clínica, equipada com uma pequena sala de cirurgia.
Um desperdício de meios e, na realidade, Saddam nunca desfrutou do iate. O seu barco gémeo - chamado 'Al Mansur' (O vencedor) - foi reduzido a sucata após a invasão do Iraque pelos EUA em 2003. O 'Al Nasim' foi salvo porque permaneceu longe do conflito. Pouco depois do seu lançamento, Saddam entregou-o à Arábia Saudita para afastá-lo da guerra entre o Iraque e o Irão. Nos anos 1990, Riade - confrontada com a invasão iraquiana do Kuwait - deslocou-o para a Jordânia.
O seu rasto desapareceu até à última década, quando foi descoberto no porto de Nice. Em 2007, quando Saddam já havia sido executado, foi leiloado por 17 milhões de dólares. Houve processos judiciais em tribunais franceses que evitaram que ficasse em mãos privadas. "Ganhamos o caso com grande esforço para trazê-lo de volta à sua terra natal", diz Al Safi. No porto de Basra, por onde passam 95% das exportações de petróleo do país, 'Al Nasim' é um convidado de luxo. "Foi usado pelo Ministério dos Transportes, mas está atualmente emprestado por um período de dois anos ao Ministério do Ensino Superior", informou o porta-voz. "É usado em trabalhos de investigação marinha e também como um lugar de descanso e hotel para os capitães de barcos que param aqui."