O país real não é o mundo "cor-de-rosa" do Governo
Mesmo quem, por opção ou conveniência, vive mais alheado do seu entorno não tem como negar que vivemos dias muito difíceis no nosso país. Não é preciso ligar a televisão ou abrir os jornais, basta sair à rua e ouvir os desabafos de quem passa por nós. Invariavelmente, preocupações e receios em torno do aumento do custo de vida, seja para comer ou pagar a casa, da falta de capacidade de resposta do SNS, da instabilidade nas escolas ou dos casos pouco transparentes que têm vindo à luz do dia. Inquietações fundamentadas por quem vive no país real e não no mundo cor-de-rosa ou estatístico da maioria socialista.
O estado em que se encontra a nação não só nos deve preocupar como deve ser o foco de toda a ação política. Contudo, não é isso o que tem sucedido, não quando o Governo tem estado perdido em "casos e casinhos" - como o ultrajante e telenovelesco dossier da TAP, que custou ao país mais de 3,2 milhões de euros!
Se por um lado a banca beneficiou do aumento das taxas de juro, enquanto os portugueses apertaram os cordões à bolsa, também o Governo arrecadou mais de 4 mil milhões de euros em impostos, beneficiando assim da inflação! Uma receita que as pessoas não sentem que esteja a ser aplicada na resolução dos problemas do país, o mesmo onde 2 milhões de pessoas continuam em risco de pobreza e de exclusão social e onde aumentam as desigualdades sociais, com rosto marcadamente feminino. O mesmo país onde manter uma casa para viver está hoje mais próximo de ser uma miragem do que um direito constitucionalmente consagrado. Do conjunto de medidas apresentadas para a habitação, o PAN conseguiu aprovar o aumento da isenção de IMI para aquisição de habitação própria para 5 anos e o fim da cobrança de comissões abusivas aos titulares de crédito à habitação, o que na globalidade poupará às famílias cerca de 119 milhões de euros. Mas não basta, é preciso fazer - e deixar fazer - mais. A atualização dos escalões do IRS à taxa da inflação é o exemplo de uma medida essencial que, mais do que um cheque pontual de 125 euros, podia beneficiar verdadeiramente a classe média, mas que foi rejeitada pelo PS.
Também no combate e na mitigação dos impactos da crise climática o Governo tem andado a marcar passo. Mesmo quando o país atravessa uma seca severa, faltam os meios e a dotação de verbas específicas em OE. Isto, num país que continua a perder ¼ da água tratada antes de chegar às torneiras, a regar campos de golfe com água potável ou a apostar na agricultura e pecuária intensivas. Um país que continua também hoje tão ou mais vulnerável à fúria destruidora dos incêndios, desprovido ainda de um cadastro e de uma reforma florestais há décadas prometidos.
E em matéria de proteção e bem-estar animal, mesmo quando, por conta da escalada dos preços, no final de 2022, a alimentação para os animais de companhia estava já 21% mais cara do que no ano anterior e o acesso aos serviços médico-veterinários continuaram a ser taxados a 23%, como se de um serviço de luxo se tratasse. O Governo e a sua maioria optaram por rejeitar as propostas do PAN, ignorando que são medidas de cariz social e de combate ao abandono.
Mas não menos importante: é precisamente no atual Estado da Nação que vai germinando o populismo antidemocrático, que ameaça os mais basilares direitos que levámos 50 anos a recuperar. Também aqui se exige uma ação responsável, comprometida e transparente, para que não vejamos cair a estabilidade social e democrática do nosso país que tanto custou a conquistar.
Deputada e porta-voz do PAN