O País dos Grupos de Trabalho
Portugal é o País das Comissões e dos Grupos de Trabalho (PCGT). Não há Governo que não os use para estudar e produzir aconselhamento sobre todo e qualquer assunto. O atual tem criado um novo a cada cinco dias e já contabiliza mais de 200. Passe o exagero dos números, podemos até admitir a necessidade de alguns e realçar que outros conseguem reunir bons especialistas. Porque o problema é outro, bem mais grave numa nação cujos índices de produtividade são o que se sabe: é que estes crânios, a maioria deles nem remunerados, trabalham de facto "prò boneco". Os meses a "partir pedra", compilados em dossiês gordos ou em pens tecnológicas, não servem para nada. Vão para o lixo. Últimos exemplos: as comissões para a natalidade e para a reforma do IRS.
A da natalidade foi uma ideia do PSD. Passos Coelho tinha a novidade como a grande surpresa para o congresso do final de fevereiro, mas o ciclone Marcelo, vindo diretamente das ilhas, acabou por a eclipsar. A do IRS nasceu no seio do Governo. Foi apresentada a meio de março, com pompa e circunstância, no Ministério das Finanças e apaparicada desde sempre pelo CDS-PP. Quatro meses depois, uma e outra chegaram à mesma conclusão, apesar de estudarem temas tão diversos. E o pior é que a solução sugerida é óbvia para qualquer leigo e não surpreende ninguém. Portugal precisa de mais bebés, trabalhadores do futuro. Mas para haver mais crianças é preciso proteger as famílias, trabalhadores do presente. E para que isso aconteça, tem de se baixar o IRS e reduzir várias outras taxas. Ora bolas: tanto trabalho para encontrar uma saída impossível de aplicar nos tempos que correm!
O Governo não tem dinheiro para pôr em prática as generosas propostas das duas comissões. Com o Orçamento para 2015 em produção sob o garrote dos chumbos do Tribunal Constitucional e o défice espartano para cumprir. Com qualquer erro a fazer mossa nos temidos mercados e, consequentemente, nas taxas de juro. Com os problemas do Grupo Espírito Santo para tornear. Com o aproximar do momento em que a oposição se reorganizará como tal depois da purga interna em curso. Os trabalhos feitos têm destino garantido: vão direitinhos para uma qualquer gaveta.
O CDS-PP tirá-los-á de lá sempre que quiser fazer gincana política e marcar a sua posição na atual coligação ou aproximar-se ao próximo possível parceiro governamental; Passos Coelho pode aproveitá-los como bandeira de campanha para as próximas legislativas, daqui a um ano... ou menos. Mas voltarão para lá depois disso. E como o mais certo é entrarmos num novo ciclo político, acabarão num daqueles caixotes a dizer papéis para destruir. E entretanto nascerão outros tantos grupos de trabalho. Muitos para albergar clientelas. Alguns mais meritórios, mas cujo trabalho não será para português ver. Somos um PCGT.
Tristes os que têm poderosos assim
Portugal deve estar entre os países com mais banqueiros a contas com a justiça. Ricardo Salgado foi apenas o último, depois de Jardim Gonçalves, João Rendeiro ou Oliveira e Costa, só para citar os nomes mais sonantes. Podemos todos congratular-nos com o facto de os poderosos não escaparem à investigação. Podemos todos aplaudir a queda dos donos disto tudo ao longo de muitos anos. Mas triste do país que tem poderosos assim. Triste do país que é notícia lá fora pela bancarrota do Estado e pela falência das suas maiores empresas. Triste do país que descobre que os seus mais ricos cedem como todos à tentação fácil do dinheiro. Triste do país que percebe a cada dia que passa que as suas elites são ainda mais escassas do que se pensava. Triste do nosso país.
Como Crato pode ter matado a avaliação
As manigâncias de Nuno Crato em redor da prova para os professores contratados, marcada à socapa e de forma rasteira, e revelando mais tarde um conteúdo de bradar aos céus, foi a maior machadada no processo global de avaliação, necessário e eternamente adiado pelo poderoso corporativo sindicato do setor. A classe que tem como objetivo final avaliar se aquilo que ensinou foi apreendido é que mais tem resistido em ser avaliada. Uma resistência que mina a credibilidade de muitos e bons professores (que os há) e mantém impunes os muitos e maus professores (que também não faltam). Crato começou por desvalorizar a verdadeira avaliação ao criar esta subavaliação de despedimento. E pode ter enterrado todo o processo pela forma como conduziu este. A sua sorte pode ter sido o mau comportamento dos professores... E o chumbo quase certo.
Um Rio para várias frentes políticas
Costa quer ser líder do PS e ver Rio à frente do PSD. O CDS quer Rio na presidência. Já o PSD prefere Santana para Belém, em vez de Marcelo ou Durão. Mas Rio serve, até porque assim fica longe da liderança do partido. Com Rio, ao lado de quem tem aparecido tantas vezes, Costa pode fazer pactos de regime num Governo maioritário ou coligações em caso de minoria. Mas se Seguro conseguir sustentação, no périplo pelas bases onde navega à bolina, também não desdenhará as conversas com o ex-autarca do Porto. Rio será pois o centro da política nacional nos próximos tempos. Vai ser puxado por muitos lados. Pode ser trunfo, contrapeso ou tudo o que ele quiser. Mas o fiel da balança, esse, será Marinho e Pinto. E será um erro esquecê-lo.