O outro lado da(s) lenda(s)

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Uma hora depois da hora marcada para a entrevista Johnny Depp ainda não tinha aparecido. Alice Cooper andava por ali a passear, descontraído, todo de cabedal e com o característico risco preto nos olhos. O estúdio, escondido numa zona residencial de Los Angeles, tinha poucos colaboradores a trabalhar naquela altura, final de tarde. E quando Depp chegou, com um dos seus chapéus fedora, fez questão de cumprimentar toda a gente. Uns com acenos, outros com sorrisos e alguns com apertos de mão. A afabilidade do ator foi surpreendente.

Joe Perry, por seu lado, parecia um pouco aborrecido no início e só a custo começou a esboçar uns sorrisos e a envolver-se na conversa. O guitarrista dos Aerosmith tem ascendência portuguesa: o seu avô emigrou da Madeira para os Estados Unidos e mudou o nome da família de Pereira para Perry. Mas ele não fez grandes comentários sobre isso nem sobre a ligação à ilha. Alice Cooper, por baixo da imagem de rock duro, teve a postura oposta: sorriu quase o tempo todo, falou mais do que os outros dois juntos e oscilou entre o orgulho e a excitação pelo que a banda pode fazer.

Mas o mais surpreendente foi Johnny Depp, que saiu da sala de maquilhagem com um lenço na cabeça, em vez de chapéu, óculos de lentes azul-escuras e um casaco de ganga misteriosamente cheio de canetas nos bolsos. No final da entrevista, perguntei-lhes se gostavam de Portugal. Os olhos de Depp brilharam. Referiu os campos de golfe portugueses e disse que adorava vinho do Porto. Depois começou ele a fazer-me perguntas e a contar histórias sobre as tatuagens que tem no peito. Falámos da colaboração com Marilyn Manson na cover de You"re so Vain em 2012, algo que muita gente desconhece. Sorriu para quem tirava fotos do lado de fora do estúdio, que tinha portas transparentes, porque por algum motivo chegaram pessoas que pareciam não ter nada que ver com aquilo e estavam deliciadas com a surpresa. Despediu-se com um aperto a duas mãos e um agradecimento quase humilde, como se a lenda fosse ao contrário. Ninguém lhe ficou indiferente.

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