O outro lado da 'mea culpa' do Governo sobre o crime O Governo assumiu ser sua a culpa pelo aumento da criminalidade registado em 2008 face a 2007. Tantas vezes acusado de ser incapaz de reconhecer os seus erros, desta vez, o Executivo não só reconheceu uma responsabilidade grave e directa sobre a vida dos portugueses como o fez por escrito, num documento com a importância do Relatório Anual de Segurança Interna..Das várias leituras que podem ser feitas desta decisão, fica certo de que não se trata de um acaso e que dificilmente será uma mudança de estratégia do Governo. Não tenhamos ilusões. Frontalidade política deste grau, para mais em ano de eleições, e numa situação em que seria fácil encontrar outras explicações para os números do crime, tem de ter uma motivação diferente. .Recuar alguns meses no tempo dá-nos algumas pistas. Quando, em Fevereiro, o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, declarou guerra ao seu sucessor no MAI, Rui Pereira, pelo encerramento de esquadras de Lisboa, percebeu-se que o choque entre estes dois pesos-pesados não se resolvia com um almoço e uma declaração pública conjunta de paz. .Na altura, Costa foi brutal no ataque ao MAI e à Direcção Nacional da PSP. Não deu margem para defesa e confirmou que a animosidade com Rui Pereira, que ficara latente aquando da sua substituição no Governo, é substantiva. .O silêncio dos últimos meses remeteu o episódio para o esquecimento. Mas, agora, ao ler-se o Relatório de Segurança Interna, percebe-se que o caso não ficara encerrado. E, conhecendo-se António Costa, dificilmente ficará depois disto. .José Sócrates manteve-se neutro no primeiro embate, pelo menos publicamente. Mas agora, salvo se tomar a iniciativa de dizer o contrário, deu um sinal de que lado está neste braço-de-ferro, ao anuir a aprovação em Conselho de Ministros de uma crítica tão directa às políticas de Costa enquanto MAI. .Lula inconsciente.Todos os brasileiros de bom senso estão, decerto, envergonhados com o que Lula da Silva disse ontem na recepção a Gordon Brown. O Presidente do Brasil não só ultrapassou todos os limites do aceitável como estimulou de forma absolutamente condenável e gratuita a xenofobia. A frase ficaria mal a qualquer chefe de Estado ou de Governo, mas é ainda mais grave vinda do líder de um dos países mais miscigenados do mundo. É incompreensível como Lula não percebeu que atacando outros estava sobretudo a ignorar os seus, pois as consequências recairão inevitavelmente sobre os milhares de emigrantes brasileiros espalhados pelo globo..Auditores da casa não fazem milagres.Diogo Leónidas, sócio da Garrigues Portugal e especialista em direito financeiro e operações de fusões e aquisições, defendeu esta semana no Diário Económico que "os auditores não deviam ser pagos pelas empresas que auditam". A sugestão parece elementar para o saudável funcionamento de qualquer sistema de controlo, mas tem contornos de relevância superiores quando em Portugal os auditados são todos clientes dos auditores, logo, a força do seu negócio. Na mesma entrevista, o homem que coadjuvou a Portugal Telecom na OPA lançada pela Sonae há dois anos sublinha ainda outro aspecto que ajuda a explicar algumas das situações a que temos assistido recentemente no âmbito da supervisão. "O auditor não trabalha na empresa, revê os dados que lhe dão" e obviamente as suas análises teriam outra independência se "não tivessem medo de perder o cliente pelas reservas que impõem num relatório de auditoria". Conclusão acertada que atenua responsabilidades a todos os reguladores, à excepção dos que dependem directamente do Estado e não das empresas que supervisionam, como é o caso do Banco de Portugal..O (pouco) que valem as quotas de mulheres .Os partidos portugueses reconheceram esta semana que estão com dificuldade em cumprir as quotas de mulheres impostas pela Lei da Paridade. Confirma-se assim que, por mais bem intencionada que seja a tentativa de equilibrar a participação política entre homens e mulheres, o protagonismo feminino na sociedade depende mais das mulheres dos que dos entraves que a tradicional sociedade masculinizada lhes coloca. .Foi também isso que demonstrou esta semana Hanne Dahl no Parlamento Europeu. Ser eleita por imposição de quotas ou por desejo próprio é bastante diferente. A eurodeputada dinamarquesa surpreendeu, quinta-feira, o hemiciclo de Bruxelas ao apresentar-se para os trabalhos com o seu segundo filho ao colo, mostrando que, aquilo que faz, faz com gosto e que a sua condição de mulher não a atrapalha..E, já agora, a título de curiosidade, dados de 2006 colocaram o Ruanda no topo da lista dos países com mais mulheres no Parlamento, com 48,8%, seguido da Suécia (45,3%) e da Noruega (37,9%).