O NOVO REI DAS 170 ILHAS DE TONGA

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Monarquias. Os regimes monárquicos são mais de 30 no mundo, grandes e pequenos reinos. Um dos menos conhecidos e mais distantes, Tonga, viu ontem ser entronizado Tupou V, numa cerimónia com toda a pompa e circunstância

Herdeiro do trono do Japão participou na cerimónia

Uma semana de festejos, paradas militares, mais de mil convidados, um gigantesco churrasco ao ar livre, um torneio de râguebi, música ao vivo, o indispensável baile de coroação e um trono com dois metros de altura, mais de quatro horas de cerimónias tradicionais - nada é demais para sua alteza real George Tupou V, o novo rei de Tonga, ontem entronizado.

A dimensão dos festejos está à altura de Tupou V, o 23º monarca de uma dinastia com raízes no século XVII, cujo reino se estende por mais de 170 ilhas da Polinésia, no Pacífico Sul, e abrange mais de 115 mil súbditos.

Na exuberância das cerimónias não faltou sequer um ritual ancestral, em que Tupou V viu ser-lhe oferecida a tradicional kava, uma bebida feita a partir das raízes da pimenta, e de outras substâncias não reveladas, que origina um suave efeito alucinógeno, como era ontem descrita na imprensa da região.

A reputação deste monarca, de 60 anos, que deve governar "com sabedoria, justiça e verdade" mede-se pelas personalidades estrangeiras presentes, que incluíam o príncipe Naruhito, herdeiro do trono do Japão, e sua mulher e filhos, a princesa Maha Chakri Sirindhorn, da família real tailandesa, representantes da família real britânica e de outras casas reais europeias.

No poder desde 2006 naquele que é o único regime monárquico autóctone do Pacífico, o Rei Tupou V viu a cerimónia de entronização ser adiada por mais de um ano devido a uma campanha de contestação na capital do reino, Nukualofa, que se seguiu à morte de seu pai e anterior Rei, no poder durante quatro décadas. Este prometera iniciar um processo de liberalização e de reformas, que acabou por não ter efeito.

Devido a este impasse, realizaram-se várias manifestações na capital de que resultaram oito mortos e importantes danos materiais, com o assalto e a destruição de edifícios públicos. Consciente da dimensão dos protestos, o novo Rei prometeu ontem prescindir do essencial das suas prerrogativas no capítulo da governação, devolvendo o poder a um Executivo saído de um Parlamento eleito. Mas o calendário para estas mudanças não foi divulgado.

Atendendo ao momento de alguma volatilidade política, a cerimónia contou até com a presença de um feiticeiro-guerreiro, que seguia à frente de Tupou V, para afastar os espíritos malignos do caminho do rei.

Este tem agora pela frente um difícil percurso, em que além de eventuais espíritos malignos, terá de desfazer a sua reputação de personagem algo excêntrico (e de playboy) e gerir um reino em que cerca de um quarto da população vive abaixo do limiar da pobreza.

O rei que perdeu a coroa

Considerado um deus vivo, o deposto rei Gyanendra, do Nepal, caminhou de revés em revés até à sua derrota final. Chegado ao poder em 2001, devido a circunstâncias trágicas - a morte da quase totalidade da família real num incidentes de contornos nunca devidamente esclarecidos -, Gyanendra torna-se Chefe de Estado de um regime populare respeitado pelos nepaleses. A sua actuação vai incompatibilizá-lo com a generalidade da população, devolver novo fôlego à guerrilha maoísta e terminar isolado no seu palácio de Catmandu, abdicando em Maio de 2008. Gyanendra vai revelar-se um adepto do poder total, procurando controlar sucessivos primeiros-ministros até assumir poderes executivos em 2005, criticando os partidos políticos e prometendo derrotar os maoístas. A sua estratégia de confronto vai comprometer o prestígio da única monarquia hindu no mundo, no poder desde o século XVIII, e bloquear qualquer possibilidade de acordo com os partidos. Em Junho de 2006, o Parlamento retira-lhe poderes, desencadeando um processo que culmina com o anúncio da abolição da monarquia. A sua residência oficial foi transformada num museu. Gyanendra dedica-se hoje às suas empresas depois de ter liquidado em sete anos uma monarquia de 300 anos.

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