O novo primeiro-ministro do país que tem mais ovelhas do que pessoas
Bill English é desde ontem o novo primeiro-ministro neozelandês, 14 anos depois de ter visto o seu partido sofrer uma pesada derrota nas eleições gerais de 2002. "Aprendemos mais com as derrotas do que com as vitórias", disse o político ao ser designado chefe do governo pelo Partido Nacional. English sucede no cargo a John Key, que se demitiu na semana passada, apanhando de surpresa os seus concidadãos da Nova Zelândia. Estava no poder desde 2008. A necessidade de dedicar mais tempo à família foi uma das razões que apresentou para abdicar do cargo, tal como fizera, em 2002, English, para explicar o mau resultado eleitoral. "Tinha 39 anos na altura e seis filhos com idades inferiores a 13 anos. Desta vez vou ter mais oportunidade de me concentrar no trabalho", disse o novo primeiro-ministro, que hoje tem 54 anos.
Formado em Comércio e Literatura Inglesa, amante de poesia e antigo agricultor num país que tem mais ovelhas do que habitantes (60 milhões para três milhões), English é deputado desde os 26 anos. Ao longo dos últimos oito anos foi vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças de John Key. Colocou o país no caminho do equilíbrio orçamental sem nunca dar sinais de que pretendia um dia suceder ao então chefe do governo. Ao contrário do seu antecessor, English é um político extremamente conservador e avesso a ideias liberais. No passado declarou-se abertamente contra medidas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto e a eutanásia.
Fervoroso católico, o segundo mais novo de 12 filhos numa família de agricultores neozelandesa, o agora líder do Partido Nacional afirma que a fé não deve influenciar as decisões políticas e que se agora houvesse uma nova votação sobre o casamento homossexual provavelmente votaria de uma forma totalmente diferente daquela de 2012. "Votaria de forma diferente agora em relação ao casamento gay. Considero que o casamento gay não é uma ameaça para o casamento de ninguém", declarou agora English, concluindo: "De certa forma é a afirmação de um conceito." O recuo do novo primeiro-ministro em relação a esta matéria foi aplaudido pelo comissário para os Direitos Humanos neozelandês, Richard Tankersley, o qual afirmou que a coragem de rever as suas próprias posições "em público é uma rara qualidade num qualquer líder".
A visão conservadora de English sobre os EUA e a Europa emergiu à luz do dia em 2008, antes da primeira eleição de Barack Obama para a Casa Branca. "Estou um pouco preocupado com esta história do Obama e da Europa, pois há uma eficácia limitada do moralismo nas relações internacionais e a Europa revelou-se particularmente incapaz até no seu quintal", declarou em conversas que manteve durante a conferência do Partido Nacional em agosto de 2008. As conversas foram gravadas por um jovem que se infiltrou no evento e depois as passou à TV3 News. "Os EUA podem argumentar que já fazem demasiado e Bush devia ter usado outra justificação - mas continua a ser preciso alguém disposto a apertar o gatilho", afirmou então o agora 39.º primeiro-ministro da Nova Zelândia.
Em alta nas três últimas eleições gerais e nas últimas sondagens, o Partido Nacional verá o seu apoio junto do eleitorado passar agora pelo teste da mudança de líder. "Muita gente que votou no partido no passado fê-lo essencialmente a pensar em John Key", declarou à CNBC Grant Duncan, professor da Universidade de Massey. Apesar de poder vencer as eleições de 2017, o Partido Nacional poderia ver reduzido o tamanho da vitória. "Poderia precisar de parceiros de coligação", afirmou, também à CNBC, Stephen Hoadley, professor da Universidade de Auckland.
As eleições ainda não têm data e, como sublinha Grant Duncan, é pouco provável que sejam antecipadas porque Bill English aproveitará o ano para mostrar o que vale. Especialmente quando tiver de apresentar, no primeiro semestre, o Orçamento do Estado. Com uma situação orçamental confortável, o novo chefe do governo e ex-ministro das Finanças poderá aproveitar para pôr em marcha políticas sociais mais positivas. E passíveis de valer mais votos.