O novo par inglês da moda - o ténis e o Mundial

Em Wimbledon, as partidas do mítico torneio de relva têm dividido as atenções com os jogos do campeonato do mundo, onde a Inglaterra já vai nas meias-finais
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Um resultado notável no sábado foi o suficiente para os adeptos do ténis no Court nº 1. Eles tinham acabado de ver Hsieh Su-wei derrotar a número um do ranking, Simona Halep, numa partida de 2h 20m na terceira ronda em Wimbledon, que acabou já o jogo dos quartos-de-final do Campeonato do Mundo, Inglaterra-Suécia, tinha começado a quase 5000 quilómetros de distância, em Samara, na Rússia.

Na verdade, quando Hsieh estava a assinar autógrafos para os espectadores reunidos junto ao court, uma onda de som abateu-se sobre ela. Harry Maguire tinha marcado aos 30 minutos e deixou a Inglaterra numa vantagem de 1 a 0. Quando a notícia do seu golo se espalhou pelo court, o rugido inicial deu lugar a um cântico: "Força, Inglaterra!"

Assim foi a tarde de sábado em Wimbledon, que se tornou o sonho de um desportista e o pesadelo logístico de um adepto. Os jogadores número um do ténis, Halep e Rafael Nadal, apareceram nos courts do All England Club no início da tarde; Kyle Edmund, o último jogador britânico no torneio de singulares, jogou no Court Central mais tarde; e, entretanto, a equipa masculina de Inglaterra tentava avançar para as meias-finais do Campeonato do Mundo pela primeira vez desde 1990.

Os organizadores do torneio recusaram-se a entregar o comando do gigantesco ecrã que servia os participantes do piquenique em Henman Hill, em Wimbledon, o que significava que não haveria nenhuma mudança na transmissão do ténis para a transmissão da BBC da partida de futebol. Muitos dos adeptos tiveram de fazer uma escolha.

"É uma pena que eles não estejam a mostrar o jogo aqui nos ecrãs gigantes", disse Brett Hitchen, que passou algumas horas no recinto do torneio antes de sair para ver o futebol num pub próximo. "Teriam tido um bom ambiente." "Acho que eles têm que manter a sua tradição", disse ele, encolhendo os ombros.

"Nada é mais importante do que o futebol"

Cerca de 30 minutos antes do pontapé de saída na Rússia, Hitchen tinha conseguido evitar um engarrafamento num dos portões principais. Os funcionários ficaram sem as pulseiras cor-de-rosa e roxo que permitiriam que os adeptos voltassem a entrar no local, explicou um dos funcionários. "Normalmente sobram centenas de pulseiras no fim do dia", acrescentou.
Mas não havia nada de normal naquele dia, desde as temperaturas a rondar os 30 graus até um país louco por futebol em alerta máximo para o Campeonato do Mundo.

É verdade que a cada quatro anos o Campeonato do Mundo e Wimbledon colidem aqui, mas raramente, nas últimas décadas, a atenção dos adeptos ingleses esteve tão dividida. Mas desta vez, a forte campanha de Inglaterra está a obrigar as pessoas a tomar decisões difíceis sobre o que ver. E se a Inglaterra avançar para a final do Campeonato do Mundo no próximo domingo, os adeptos ingleses enfrentarão o dilema final: coordenar a final masculina de Wimbledon no Court Central e a partida de futebol, marcada para começar duas horas depois.

"Nada é mais importante do que o futebol", afirmou Tristan Colgate, um dos dois homens que deixaram os seus cobiçados lugares no Court Central no sábado, após o primeiro set da vitória de Nadal sobre Alex de Minaur, da Austrália. Colgate e o seu companheiro, Ben McGrail, pegaram nas suas pulseiras, saíram do terreno e começaram a caminhar decididamente na direção de Wimbledon Village em busca de um bar onde pudessem assistir ao Inglaterra-Suécia.

Eles olharam para todas as outras pessoas que estavam a sair e aceleraram o passo. "A minha preocupação não é estarmos a perder o ténis", disse McGrail. "Estou com receio que não consigamos entrar em lado nenhum para assistir ao jogo porque todos os pubs vão estar cheios."

Alguns adeptos de ténis decidiram ficar e seguir o futebol por outros meios. Tinham tablets no colo ou enterravam a cara nos seus telefones, esperando conseguir ver o jogo nos seus aparelhos enquanto absorviam o sol brilhante e o ténis se desenrolava em seu redor.

Charles Dackombe estava deitado de lado em cima de uma manta perto do cimo de Henman Hill, vendo o jogo de futebol no seu tablet, que ele posicionara cuidadosamente à sombra de um guarda-sol em miniatura. "O melhor dos dois mundos", disse Dackombe, que acrescentou: "Ele está a emitir bem, mas a imagem está um pouco desfocada". Nem toda a gente conseguiu assistir ao futebol, já que a procura pelo streaming parecia prejudicar o sinal de internet do torneio.

Na área reservada aos jogadores, dezenas de participantes estavam sentados em cadeiras à frente de uma parede com três televisões sintonizadas no Campeonato do Mundo. Na sua maior parte pareciam ser observadores neutros, com a notável exceção da sueca Johanna Larsson, acabada de sair de uma vitória em pares femininos e que vestia a camisola amarela da sua seleção.

Perto dali, um homem dormitava num sofá de frente para duas televisões que estavam sintonizadas nas partidas a decorrer nos principais courts de Wimbledon. Uma dessas partidas, o confronto no Court Central entre Angelique Kerber e Naomi Osaka, aparentava ser empolgante, mas estava a ser disputada perante uma multidão que parecia ocupar apenas um terço da capacidade das bancadas.

Kerber, ex-número um do mundo, assegurou a vitória em 63 minutos. Enquanto dava autógrafos a caminho da saída, um aplauso ruidoso irrompeu, seguido por gritos de "A Taça vem para casa", o novo grito de guerra dos adeptos ingleses. A Inglaterra tinha acabado de conseguir uma vitória por 2 a 0 sobre a Suécia, avançava para as meias-finais e Wimbledon estava a comemorar. Nada daquilo era música para os ouvidos de Kerber, uma alemã cuja reverenciada seleção nacional saiu cedo do Campeonato do Mundo.

O dia continuou. Com a vitória de Inglaterra no Campeonato do Mundo garantida e com mais partidas de ténis ainda a serem disputadas, os adeptos regressaram ao Court Central, enchendo-o até ao limite da sua capacidade na esperança de encerrar o dia alucinante com um último jogo estrondoso.

Novak Djokovic, três vezes campeão de Wimbledon, estava a vencer Edmund, que suou para ganhar o primeiro set. A multidão estava de pé, assobiando e gritando por Edmund, britânico nascido na África do Sul. No momento em que Djokovic deu os últimos retoques na sua vitória por 4-6, 6-3, 6-2 e 6-4, um sentimento de normalidade tinha regressado. O ténis teve novamente a atenção total do All England Club.

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